GP da Bélgica de 2021 entra para a história como o mais curto da história
(Foto: Dan Mullan/Getty Images/Red Bull Content)

As seis corridas mais curtas da história da F1

O GP da Bélgica de 2021 entrou para a história da F1 como a corrida mais curta da categoria. Oficialmente, a prova teve apenas uma volta computada para a classificação final e 3min27s071 de duração.

Existem algumas curiosidades em torno destes novos “recordes”. Você viu, por exemplo, que os pilotos completaram duas voltas atrás do carro de segurança e já estavam na terceira quando a direção de prova interrompeu com bandeira vermelha. Mas pela regra, quando a bandeira vermelha é utilizada, vale a classificação de duas voltas antes, o equivalente à penúltima passagem pela linha de cronometragem.

Só que o regulamento também diz que para uma corrida ser válida, o líder precisa completar pelo menos duas voltas. Então, como validar a prova e distribuir pontos (mesmo que pela metade) de uma prova que teve oficialmente apenas uma volta? Valeu aqui a interpretação do diretor da FIA, Michael Masi, que afirmou depois do evento que em sua visão, e na dos comissários, o que vale é a distância percorrida pelo líder, independente da regra da bandeira vermelha. Sendo assim, ele passou sim duas vezes pela linha de cronometragem.

Quer mais uma pimentinha na discussão sobre o GP da Bélgica? Bem, segundo o mapa oficial do circuito de Spa-Francorchamps publicado pela própria FIA, o traçado atual tem 7,004 Km. Só que na classificação da prova de domingo, o percurso total da corrida teve apenas 6,880 Km. Como é possível uma prova com uma volta ter uma extensão percorrida menor do que a do circuito?

Bem, você já deve ter percebido que em diversos circuitos da F1, incluindo em Spa, a posição da linha de chegada não é no mesmo ponto da largada, em sim, um pouco mais atrás. Isso se dá pela união de dois fatores. O primeiro é que se coloca normalmente a linha de chegada à frente da torre dos comissários para que, no caso de um defeito técnico em câmeras ou cronometragem, os representantes da FIA possam visualizar a olho nu quando os carros cruzam a linha final.

Ao mesmo tempo, a linha de largada precisa estar em uma posição em que a maior parte do grid caiba na reta principal, evitando que os carros mais atrás larguem em curva. Isso acontecia inclusive no próprio GP da Bélgica antes das últimas alterações da curva final do circuito. Sendo assim, muitas vezes é difícil coincidir a posição da linha de chegada em frente à torre de comando com a linha de partida em lugar que permita que o grid comporte todos [ou maioria] dos carros em linha reta.

Por isso, a primeira volta em Spa acaba ficando mais curta, já que os pilotos largam mais para o final da reta e completam o giro alguns metros antes. Por isso, com uma corrida de apenas uma volta completada, o percurso final acabou sendo menor que a extensão total do circuito.

Com tudo isso, o GP da Bélgica quebrou um recorde de prova mais curta da história da F1 que já durava quase 30 anos. O GP da Austrália de 1991 foi vencido por Ayrton Senna após apenas 24min34s899 de duração em que o vencedor percorreu 52,920 Km. A prova acabou encerrada também com bandeira vermelha por conta da forte chuva que caía em Adelaide após 14 voltas. A decisão aconteceu no momento em que o líder, Ayrton Senna, fazia movimentos com os braços pedindo o fim da prova ao ver os acidentes acontecendo em plena reta do traçado urbano.

Por quase 30 anos, o GP da Austrália de 1991, vencido por Ayrton Senna, estava no topo de GPs mais curtos da história da F1
Por quase 30 anos, o GP da Austrália de 1991, vencido por Ayrton Senna, estava no topo de GPs mais curtos da história da F1 (Imagem: F1/Reprodução)

Estatisticamente, oito GPs da Alemanha entre 1968 e 75 tiveram entre 12 e 14 voltas, o que os colocaria como provas “mais curtas” neste quesito. Só que o motivo para esse pequeno número era a enorme extensão do circuito de Nurburgring, com 22,835 km. A prova de 1971, por exemplo, mesmo com apenas 12 passagens, teve 1h29min15s7 de duração e com todas as suas voltas previstas completadas.

Por isso, para relembrarmos as outras corridas “encurtadas” da história da F1, preferimos usar como critério o tempo de duração das corridas e a quilometragem percorrida. Lembrando que o primeiro posto já é o do GP da Bélgica de 2021 e o segundo, do GP da Austrália de 1991.

Vamos ao restante da lista:

GP da Espanha de 1975

Tempo: 42min53s700 (3º)
Distância: 109,939 Km (4º)

Ao contrário de todos os outros GPs integrantes dessa lista, a etapa espanhola de 1975 não foi encurtada por causa da chuva, mas sim, por causa de uma grande tragédia.

Logo no início do final de semana, os principais representantes da Associação de Pilotos de Grande Prêmios (GPDA, na sigla em inglês) se mostraram bastante irritados com a forma como as barreiras do circuito de Montjuich, em Barcelona, foram instaladas. Além de não estarem devidamente fixados, os guardrails ainda não estavam posicionadas juntos, com diversos espaços entre eles, o que deixava diversos pontos perigosos.

A maior parte dos pilotos se recusou a participar dos treinos livres de sexta-feira e a organização colocou homens para trabalhar durante a noite para ajustar as barreiras para o restante do final de semana. Até mesmo mecânicos e outros membros das equipes foram requisitados e ajudaram no serviço, para tudo ficar pronto a tempo.  

Só que no sábado pela manhã, os pilotos ainda não ficaram satisfeitos com os ajustes e novamente se negaram a competir. Entre os líderes do movimento estava o brasileiro Emerson Fittipaldi. A organização do GP então ameaçou processar pilotos e equipes, além de pedir para a justiça espanhola apreender o equipamento dos times nos boxes. Com medo, as escuderias pediram para os competidores entrarem na pista, o que eles acabaram fazendo.

Fittipaldi completou três voltas durante a classificação, de forma bem lenta, apenas para não ser considerado como “não entrante” e evitar assim uma retaliação jurídica a ele ou à McLaren. No dia seguinte, ele voltou ao Brasil e não participou da prova.

Logo na largada da corrida, Vittorio Brambilla, Mario Andretti, Niki Lauda e Clay Regazzoni se envolveram em um acidente. Vendo que a coisa não estava bem desde o começo, Wilson Fittipaldi e Arturo Merzario resolveram então abandonar logo em seguida em protesto, ao final da primeira volta. A prova seguiu com diversos outros problemas e na 25ª volta, seis competidores já tinham batido nas barreiras.

Na 26, a iminente tragédia aconteceu: a Embassy de Rolf Stommelen perdeu a asa traseira e foi direto para as barreiras. O carro bateu, voltou para a pista, e ao acertar o guardrail do outro lado do traçado, decolou, caindo atrás das barreiras. Quatro pessoas que estavam ao lado do local acabaram morrendo: o bombeiro Joaquín Benaches Morera, o espectador Andrés Ruiz Villanova e os fotojornalistas Mario de Roia e Antonio Font Bayarri. Stommelen sofreu fraturas na perna, pulso e em duas costelas, mas sobreviveu.

Incrivelmente, a corrida seguiu por mais quatro voltas até a direção de prova resolver encerrar após 29 passagens. O então líder Jochen Mass, companheiro de Fittipaldi na McLaren, foi declarado vencedor. Como a corrida acabou antes de três quartos do percurso previsto, foi a primeira vez que apenas metade dos pontos foram distribuídos para os pilotos na história.

A F1 nunca mais voltou a Montjuich.

GP da Malásia de 2009

Tempo: 55min30s622 (4º)
Distância: 171,833 Km (6º)

O final de tarde em Sepang sempre foi um problema, ainda mais pela teimosia da F1 em marcar suas corridas mais para o final da tarde para melhorar o horário de transmissão para a Europa. Foi o caso da edição de 2009 do GP da Malásia.

Após um início de corrida com pista seca, a chuva começou a cair por volta da 19ª volta da prova. A princípio, ela não pegou todo o circuito e parecia que a prova poderia continuar dentro dos padrões de segurança da F1. Só que pela 31ª volta, ela apertou e se tornou um dilúvio, com os pilotos começando a ter dificuldades para manterem seus carros na pista. Sebastien Buemi e Sebastian Vettel rodaram e abandonaram.

Assim, após a 33ª passagem, a direção de prova paralisou a corrida, quando Jenson Button liderava com sua Brawn GP. Os carros ficaram a alinhados no grid de largada e todos esperaram cerca de 50 minutos. Foi durante este período que surgiu na transmissão a imagem de Kimi Raikkonen tomando sorvete que ficaria tão famosa entre os fãs. Para muitos, era mais uma mostra da “cabeça fria” do piloto com a situação da corrida, mas, na verdade, ele já tinha sido informado que não iria continuar na prova de qualquer jeito por conta de um problema com sua Ferrari.

Apesar da chuva diminuir neste meio tempo, por conta da falta de iluminação natural com o cair da tarde, a direção de prova acabou sendo obrigada a encerrar a prova e metade dos pontos foram concedidos aos pilotos.

GP da Áustria de 1975

Tempo: 57min56s690 (5º)
Distância: 171,419 Km (5º)

Novamente a chuva causou problemas para a F1 no GP da Áustria de 1975. Poucos minutos antes da largada, uma tempestade chegou ao circuito de Osterreichring, o mesmo que hoje recebe o nome de Red Bull Ring. Diante do perigo, Bernie Ecclestone, dono da Brabham e representante das equipes (pois é!), conversou com a organização e conseguiu convencê-la a adiar a largada.

Todos aguardaram 45 minutos, quando a direção de prova resolveu reiniciar o evento diante da melhora da condição, apesar da chuva, realmente mais fraca, persistir.

O que se viu, no entanto, foi uma pista molhada ainda extremamente complicada para os pilotos. A corrida teve suas primeiras voltas com muitas rodadas e batidas. No paddock, representantes da Associação dos Pilotos e comissários da FIA começaram a discutir se a prova deveria continuar ou não.

Vittorio Brambilla bateu sua March após receber a bandeira quadriculada no GP da Áustria de 1975

Na 29ª volta, quando a chuva voltou a piorar, tomou-se então a decisão de parar a corrida. Vittorio Brambilla liderava e venceu assim sua primeira corrida na F1. Em uma cena curiosa, já após a bandeirada, ele perdeu o controle de sua March na volta de desaceleração e bateu. Mesmo assim, ele conseguiu retornar à pista com o bico do carro quebrado para fazer sua volta de celebração.

Nos minutos seguintes, a chuva começou a diminuir de novo e algumas equipes passaram a fazer pressão para a corrida ser reiniciada. Só que a direção de prova tinha usado a bandeira quadriculada, e não a vermelha, e por isso, por regulamento, isso não seria possível. Após alguma discussão, o resultado foi mantido com James Hunt, de Hesketh, e Tom Pryce, de Shadow, completando o improvável pódio.

GP de Mônaco de 1984

Tempo: 1h01min07s740 (6º)
Distância: 102,672 Km (3º)

O famoso e histórico GP de Mônaco de 1984 nem foi tão curto assim se olharmos para o tempo de prova, acima de uma hora de duração, mas, até pelas características do traçado, foi o terceiro da história em termos de menor percurso percorrido, com apenas 102 Km. Sendo assim, merece a lembrança.

A história é bem conhecida. Uma chuva bastante forte caiu no principado naquele domingo e a largada foi adiada em 45 minutos. Mesmo sem melhora das condições, a direção de prova resolveu iniciar a corrida. Logo na largada, os companheiros de Renault, Derek Warwick e Patrick Tambay, bateram. O francês inclusive sofreu uma fratura na perna.

A prova continuou e diversos pilotos tiveram problemas para escapar dos guardrails do circuito de rua. Entre os mais agressivos que conseguiram driblar essas dificuldades, estava o novato Ayrton Senna, que, com sua Toleman, subiu da 13ª posição do grid para segundo até a 19ª volta.

Na 31ª volta, quando a chuva começou a piorar ainda mais, a direção de prova resolveu interromper a corrida com bandeira vermelha e a quadriculada, garantindo a vitória ao líder do momento, Alain Prost. Por muito tempo, a decisão foi vista como uma polêmica por conta da aproximação de Senna em relação ao líder no momento da interrupção.

Metade dos pontos foram concedidos aos pilotos, o que, apesar da vitória, acabou se tornando uma dor de cabeça para Prost. Na época, o vencedor recebia nove pontos no total, o que fez o francês somar 4,5 naquele GP. Se a corrida continuasse, mesmo que chegasse em segundo, ele somaria seis. No final da temporada, ele perdeu o título para o companheiro de McLaren, Niki Lauda, por apenas 0,5 ponto.

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