(Foto: Peter Fox/Getty Images / Red Bull Content)

GP da Áustria tem novo caos com limite de pista e mudança de resultado

A questão de limites de pista acabou sendo o grande assunto durante todo o final de semana do GP da Áustria. E essa frase serve não só pra 2023. Em 22, a questão também surgiu com força na etapa do Red Bull Ring.

Vários tempos foram deletados durante as duas classificações (para os grids do GP e da corrida sprint de sábado), o que já deixou diversos pilotos incomodados. Na corrida de domingo, no entanto, a situação só piorou com muitas punições impostas durante a prova e uma revisão quase que completa do resultado horas após o GP.

No final, as quatro primeiras colocações foram mantidas em relação a ordem na bandeira quadriculada, mas do quinto para trás, muitas mudanças foram feitas com a punição de oito pilotos imposta pelos comissários horas após a corrida.

Esta nova checagem aconteceu por conta de um protesto da Aston Martin que, ao verificar o documento publicado pela FIA com as 83 voltas deletadas durante a prova por infração do limite de pista, chegou à conclusão que os comissários não conseguiram impor durante a corrida todas as punições devidas.

Isso acontece porque além de ter a volta deletada, pela normativa da FIA sobre a questão, os pilotos recebem uma punição de cinco segundos no caso de ultrapassarem o limite de pista por quatro vezes e 10 segundos na quinta vez. A partir da sexta, a contagem recomeça.

Este tempo da penalização pode ser pago no próximo pit stop do piloto após a oficialização da decisão dos comissários durante a corrida. A outroa opção é de somar os segundos extras no tempo total de prova o piloto não realize uma nova passagem pelo box durante a prova ou a penalização seja anunciada depois da bandeira quadriculada.

Os comissários chegaram à conclusão que a Aston Martin tinha razão e que realmente alguns pilotos tinham passado mais de quatro vezes do limite da pista e não tinham sido punidos. Foram eles: Carlos Sainz, Lewis Hamilton, Pierre Gasly, Alex Albon, Esteban Ocon, Logan Sargeant, Nyck de Vries e Yuki Tsunoda.

Alguns deles, como Hamilton, por exemplo, chegaram a tomar a punição de cinco segundos durante a prova (o inglês cumpriu na parada para a troca de pneus), mas, depois, ainda passou por uma quinta vez por fora do traçado, o que resultou em 10 segundos no tempo total da corrida.

Desta forma, o novo resultado do GP da Áustria ficou assim:

Resultaod do GP da Aústria de 2023 após revisão dos comissários
Resultaod do GP da Aústria de 2023 após revisão dos comissários

Por que o problema do limite de pista está piorando

Aqui no Projeto Motor, já explicamos os detalhes da regra do limite de pista e por que ela existe. Por coincidência (ou não), o artigo foi publicado após o GP da Áustria de 2022, que também se tornou um caos por conta da questão.

É importante ressaltar que o regulamento da FIA sempre determinou que os pilotos deveriam respeitar o limite de pista e não poderiam conseguir qualquer tipo de vantagem ao passar fora do traçado. Mas então, por que a sensação de que a questão piorou nos últimos anos?

Existem alguns pontos para serem avaliados aqui. Um dos mais óbvios é a mudança de como os circuitos são construídos. Por questões de segurança, as zebras, hoje, são mais baixas (ou praticamente planas) para evitar que os carros decolem ou até capotem quando escapam do traçado. Isso acontece também para que as pistas também possam ser utilizadas em eventos de motovelocidade.

Além disso, as áreas de escape possuem mais asfalto para gerar mais atrito nas rodadas e saídas de pista e diminuir o impacto de possíveis batidas nos muros ou a velocidade do carro quando eles chegam na brita. Foi verificado com o tempo que as áreas apenas com britas causavam mais capotamentos ou decolagens dos carros.

Só que isso fez com que sair da pista deixasse de fazer os pilotos perderem tempo. Poder abrir um pouco mais a curva em determinadas tomadas passou a dar aos pilotos a chance de um contorno mais rápido e de entrarem mais lançados na próxima reta.

Limite de pista segue uma dor de cabeça para pilotos e comissários da FIA nos últimos anos, principalmente no Red Bull Ring (Foto: Steven Tee / LAT / Pirelli)
Limite de pista segue uma dor de cabeça para pilotos e comissários da FIA nos últimos anos, principalmente no Red Bull Ring (Foto: Steven Tee / LAT / Pirelli)

Outra questão é a evolução das possibilidades de monitoramento. Além dos pilotos estarem saindo mais vezes do traçado, os comissários, hoje, também conseguem verificar com um maior número de câmeras e outros dispositivos se os competidores estão ultrapassando as linhas que delimitam os traçados.

E quando se pune uma saída, a busca por uma suposta justiça faz com que os comissários tentem ser exigentes com qualquer tipo de exagero por parte dos pilotos, mesmo que seja por questão de milímetros. Existe um questionamento constante sobre quando realmente existe um ganho de tempo, ainda mais quando a saída do traçado é por uma distância mínima, mas a resposta da FIA é que ela prefere punir todos sem entrar em méritos que não consegue mensurar.

Por isso, as checagens das imagens em determinados pontos fazem com que diversos pilotos recebam alertas ou punições. E essa não vem sendo uma questão apenas do Red Bull Ring, na Áustria, já que outros circuitos, como na saída da Parabólica em Monza, também causam problemas.

Outro ponto importante é que desde o começo dos anos 2000, a visão dos pilotos dentro do cockpit praticamente inviabiliza que eles saibam se estão dentro ou fora do limite. Hoje, por conta do regulamento de segurança (e a busca por melhor aerodinâmica pelos engenheiros), os pilotos ficam sentados em uma posição em que conseguem enxergar apenas para frente, mas não possuem visão mais próxima.

Para se ter ideia, eles têm a visão nem mesmo da asa dianteira dos próprios carros. Muito menos a linha branca quando está logo abaixo dos pneus. Isso cria problemas até mesmo no momento em que eles estacionam os carros no grid de largada, como já contamos aqui no Projeto Motor.

Traçado do Red Bull Ring é um problema

Mesmo que não seja algo específico deste circuito, está bastante óbvio que o Red Bull Ring é uma das pistas mais problemáticas sobre a questão do limite de pista. Especialmente nas curvas nove e 10, as últimas duas do traçado.

Neste vídeo publicado pela F1, é possível ver quando Pérez teve sua volta no Q2 de sexta-feira deletado pela infração ao limite de pista neste ponto, o que lhe fez ser excluído mais cedo que o esperado da classificação:

Na publicação sobre as punições pós-corrida desde domingo, os próprios comissários afirmaram que “recomendam fortemente que uma solução seja encontrada para a situação do limite de pista NESTE CIRCUITO”.

São curvas de média velocidade em descida que empurram os carros para fora e os pilotos possuem visão bastante limitada. Até não há muito tempo, as zebras neste ponto eram mais estreitas e as caixas de brita (ainda existentes) eram mais próximas das linhas brancas. Mas isso causou diversos acidentes, incluindo alguns bastante perigosos.

Não existe uma solução óbvia. O circuito pode ter seu traçado modificado ou, em acordo entre todos os competidores e a FIA, a regra ser levemente relaxada no trecho em questão.

Mas a questão principal é que, justa ou não do ponto de vista técnico-esportivo, o problema do limite de pista – especialmente no Red Bull Ring – está prejudicando o lado do espetáculo com reclamações não só por parte dos pilotos, mas também do público. Alguma ação precisará ser tomada pela F1.

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