Hamilton e Toto Wolff: o simbolismo de uma era na Mercedes
(Foto: Sebastian Kawka/Mercedes)

Hamilton e Mercedes: aposta, domínio da F1 e fim por baixo

O GP de Abu Dhabi de 2024 ficará marcado pelo capítulo final da parceria mais vitoriosa da história da F1. Lewis Hamilton realizou uma prova de recuperação saindo da 16ª posição do grid para terminar em quarto na sua última corrida pela equipe Mercedes.

Em 2025, Hamilton irá se transferir para a Ferrari, após vários anos de namoro. Assim, ele encerra o período de sua carreira pelo qual certamente ele será lembrado por décadas e décadas.

Em 12 temporadas pela Mercedes, Hamilton conquistou 84 vitórias, 78 pole positions, 153 pódios, 55 voltas mais rápidas em um total de 246 GPs. Foram ainda seis títulos de pilotos e oito de construtores.

Interessante entender que esses números não foram conquistados do nada. Quando se juntaram, em 2013, nem Hamilton nem Mercedes sabiam exatamente o que esperar um do outro. Existia talento óbvio e capacidade de conquistas dos dois lados, porém, ambos estavam apostando alto em um momento de baixa.

E qualquer pessoa estaria claramente louca se questionar o sucesso desta parceria. Os dois lados se beneficiaram demais. Hamilton teve por muitos anos o melhor carro do grid ou, no mínimo, em condições muito parelhas com seus adversários.

Do outro lado, a Mercedes sempre teve um piloto sagaz e com fome de conquistas, que na maior parte do tempo entregou o que se esperava dele com o nível do equipamento que tinha em mãos.

A aposta de Hamilton na Mercedes

É sempre interessante contextualizar que Hamilton realizou uma aposta quando se transferiu da McLaren para a Mercedes em 2013. Na época, ele estava trocando uma equipe que tinha lhe dado um título Mundial em 2008 e vencido 18 corridas entre 2010 e 12 por uma que, no mesmo período, tinha apenas uma vitória e passava por uma ampla reformulação.

O projeto inicial da Mercedes em 2010 contou com Nico Rosberg e Michael Schumacher e se arrastou com mais decepções do que alegrias durante três temporadas. A primeira vitória aconteceria de forma circunstancial com Rosberg em 2012. Só que na mesma temporada, o time sequer passava com seus carros do Q2 da classificação em diversas etapas.

Mas a aposta não foi só baseada em boa fé. Para começar, Hamilton conhecia bem onde estaria pisando. Contratado desde os tempos de kart pela McLaren, o britânico sempre teve apoio técnico e financeiro da marca alemã, que até 2010 era acionista da equipe de Woking. Foi apenas depois isso que a montadora resolveu ter sua própria equipe, adquirindo a então campeã de 2009, Brawn GP.

Ou seja, a estrutura do departamento esportivo da Mercedes não era uma novidade para Hamilton, que mesmo na F1 já entendia o poder da fabricante, que fornecia os motores de sua McLaren.

Em 2012, um pouco cansado dos altos e baixos da McLaren e observando um movimento de saída de engenheiros importantes, entre eles Paddy Lowe, que trocava o time britânico justamente pela Mercedes, Hamilton resolveu que era hora de respirar novos ares após anos de parceria.

A primeira ideia foi tentar se transferir para a Red Bull, que dominava a F1 com Sebastian Vettel. Mas a negociação não foi adiante, já que Christian Horner teve receio abrir uma guerra interna com uma dupla formada pelos campeões Vettel e Hamilton. Então, Hamilton resolveu aceitar o desafio proposto pelo então consultor do time alemão, Niki Lauda, de se transferir para a Mercedes.

Domínio da F1

Hamilton chegou na Mercedes em 2013, porém, o olhar de ambos estava em 14, quando a F1 passaria por uma enorme mudança de regulamento, em que a F1 adotaria as unidades de potência híbridas como obrigatórias (eram opcionais até então), com novos dispositivos e capacidade de entrega, além de alteração do chassi.

Mesmo assim, a primeira temporada já pareceu promissora. Foram três vitórias do time: duas de Nico Rosberg e uma de Hamilton. O britânico ficou à frente do companheiro no campeonato, em quarto no geral, e a equipe terminou com um surpreendente segundo lugar entre os construtores.

A partir de 2014, o time entregou tudo o que prometeu ao piloto e muito mais. A Mercedes sobrou na F1 e venceu 16 de 19 etapas em 2014 e 15, e 19 de 21 provas do calendário de 2016. Um enorme massacre. A disputa interna, porém, foi dura. Rosberg, um amigo desde os tempos de kart, tentou bater de frente com Hamilton (e eles literalmente bateram diversas vezes dentro da pista).

O britânico venceu os campeonatos de 14 e 15, mas foi superado pelo companheiro em 16, em uma temporada em que não desempenhou tão bem em algumas provas e teve problemas mecânicos em momentos cruciais da disputa.

Campeão, Rosberg se aposentou imediatamente após levantar a taça e foi substituído por Valtteri Bottas para 2017. O finlandês se mostrou um piloto rápido, porém, nunca chegou a ameaçar o reinado e liderança de Hamilton na equipe.

Por outro lado, mudanças seguidas no regulamento diminuíram drasticamente a vantagem da Mercedes. Durante 2018, inclusive, a Ferrari chegou a se mostrar até mais forte que a equipe alemã em boa parte da temporada, mas então Hamilton conseguiu responder principalmente na segunda metade da temporada. Para muitos, aquela fase mostrou o auge técnico do piloto.

Só que a maré começou a virar a partir de 2021. Por conta da pandemia, foram realizadas novas mudanças no regulamento, porém, com grandes limitações para as equipes se adaptarem. Os modelos deveriam ser basicamente os mesmos do ano anterior. Isso privilegiou a Red Bull, que com um Max Verstappen mostrando altíssimo nível técnico, surgiu como uma grande força para aquela temporada.

Hamilton e Mercedes conseguiram reagir durante o ano com desenvolvimento do acerto do carro e o britânico chegou a ficar com o título nas mãos na última etapa do ano, em Abu Dhabia.

Mas um safety car inesperado seguido por decisões bastante polêmicas por parte da direção de prova (que a própria FIA depois condenou) resultaram em um dos finais de campeonato mais fascinantes da história, com Verstappen executando uma ultrapassagem em Hamilton na volta final para acabar com a sequência de conquistas do britânico.

A queda de Hamilton e Mercedes e a mudança para a Ferrari

Em 2022, as coisas mudaram muito para a Hamilton. Para começar, ele tinha um novo companheiro de equipe George Russel, talentoso, rápido e bem mais jovem. Além disso, a FIA realizou uma grande mudança no regulamento (uma das maiores da história) e a Mercedes não acertou mais a mão do carro.

Os anos seguintes foram de resultados ruins. Hamilton claramente sentiu a fase e também começou a mostrar uma queda técnica, passando a ser batido pelo parceiro de time com certa frequência.

Ele passou dois anos e meio sem vitórias entre o GP da Arábia Saudita de 2021 e o da Grã-Bretanha de 24. Neste meio tempo, ele mostrou várias vezes frustração por não se sentir ouvido pela equipe.

A F1 anunciou para 2026 uma nova grande mudança em seu regulamento e então uma outra janela de oportunidade surgiu. E Hamilton resolveu partir para uma abordagem parecida com a que assumiu em 2013, quando trocou a McLaren pela Mercedes.

Aos 39 anos e sabendo que não tem mais muitas temporadas pela frente, Hamilton decidiu aceitar um novo convite da Ferrari para finalmente correr pela icônica equipe italiana, a mais antiga e vitoriosa da história da F1.

A união chacoalhou o mercado e causa grande expectativa. O olhar estratégico talvez pode estar apenas em 2026, quando o novo regulamento entra em vigor. Mas fãs e toda comunidade da F1 estarão certamente atentos em cada passo de Hamilton com o simbólico macacão vermelho com o cavalinho rampante já a partir de 1º janeiro de 2025, quando o piloto de maior sucesso da F1 em todos os tempos passa oficialmente a representar a Ferrari.

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