McLaren foi uma das grandes equipes e construtoras da Indy nos anos 70
Em primeiro plano, modelo McLaren M16 na Indy 500 de 1974 (Foto: IMS)

Como a McLaren se tornou uma potência da Indy nos anos 70

No começo de agosto, a McLaren anunciou a compra de uma fatia maior de sua operação na Indy, realizada em conjunto Schmidt Peterson, se tornando majoritária na sociedade. O movimento pode parecer estranho se pensarmos no foco histórico da empresa na F1, mas se olharmos para um passado mais longínquo da equipe, iremos descobrir que esse apetite por correr nos Estados Unidos está no DNA do time.

A McLaren nasceu em 1963 fundada por Bruce McLaren para competir na famosa Tasman Series, competição com modelos de F1 na Oceania. No começo, ele usava carros da Cooper. Em um segundo momento, em 64, Bruce vendeu parte do time para permitir a entrada do investimento do empresário americano Teddy Mayer.

E antes mesmo de entrar na F1, o que aconteceu apenas em 66, o time se tornou um construtor ao produzir esporte-protótipos para competir em outra lendária categoria dos anos 60 e 70, a Can-Am. Essa, como o próprio nome já indica, era realizada na América do Norte, com provas no Canadá e Estados Unidos.

Com um pé nos Estados Unidos e outro na Europa durante toda a segunda metade da década de 60, um passo natural para o time seria investir na principal competição de monopostos americana, a Indy. O movimento a ser realizado para 1970 foi bastante estimulado pela fabricante de pneus Goodyear, que queria acabar com o domínio da Firestone na competição e via na McLaren uma potencial parceira para isso acontecer.

Os motivos para a aposta eram óbvios. Na F1, a McLaren ainda não era uma das grandes equipes de forma estabelecida, porém, vinha em crescimento desde sua estreia. Ao final de 1969, a McLaren acumulava quatro vitórias no Mundial nas duas temporadas anteriores, com o vice-campeonato de construtores de 1968 e o quarto lugar em 69. Nesses dois anos, ainda teve pilotos em terceiro na classificação geral em ambos, com Denny Hulme e o próprio Bruce McLaren, respectivamente.

Para melhorar, nos Estados Unidos, o sucesso era absoluto. O time destruiu a concorrência na Can-Am a partir da temporada de 1967 com os títulos de pilotos para com McLaren e Hulme por três anos em sequência e 20 vitórias em 23 corridas nestas três temporadas. Em 69, a McLaren venceu todas as 11 provas do campeonato com o seu protótipo M8B.

Com essa expertise acumulada dos dois lados do Atlântico, a McLaren desenvolveu internamente o modelo M15 para correr nas 500 Milhas de Indianápolis de 1970. O carro, no entanto, se mostrou problemático tanto em termos de dirigibilidade como confiabilidade. Carl Williams ainda conseguiu terminar em nono, mas na outra única corrida em que o M15 participou, abandonou.

A experiência serviu para a equipe dar seu primeiro passo na Indy e construir em seguida um dos melhores carros da história da categoria. A nota triste, no entanto, era que o fundador do time não veria essa evolução, com a morte de Bruce McLaren em um teste com seu protótipo para a Can-Am em Goodwood, na Inglaterra.

O McLaren M16

Projetado por Gordon Coppuck e John Barnard, o M16 foi apresentado oficialmente em janeiro de 1971 como o novo carro da McLaren para competir na Indy, em especial nas 500 Milhas de Indianápolis.

O modelo era equipado por um motor Offenhauser de quatro cilindros em linha turbocharger que produzia por volta de 700 cavalos. O chassi era uma evolução bem grande em relação ao seu antecessor e absorveu algumas novidades vistas na F1 em 1970, inspiradas no Lotus 72, como os radiadores instalados nas laterais e linhas mais fluidas na parte frontal para melhorar a aerodinâmica.

Três carros foram inscritos para as 500 Milhas de 1971: sob a bandeira da McLaren, correram Peter Revson e Hulme. A Penske comprou um pacote para competir com Mark Donohue. E modelo já mostrou sua velocidade na classificação quando todos eles ficaram entre os cinco primeiros do grid, com Revson e Donohue saindo em primeiro e segundo, respectivamente.

Na corrida, no entanto, Hulme e Donohue abandonaram com problemas mecânicos. Revson, mesmo assim, conseguiu um bom resultado ao terminar na segunda posição, 22s atrás de Al Unser em seu Colt-Ford. De qualquer maneira, o potencial do carro estava apresentado. E não demorou para ele florescer. Donohue venceu duas corridas com o M16 ainda na temporada de 1971, em Pocono e Michigan.

A primeira vitória em Indianápolis

Em 1972, a McLaren fez novas atualizações no seu modelo, batizando o novo carro de M16B. Gordon Johncock foi contratado para substituir Hulme. A parceria com a Penske não só foi mantida como ampliada, com a contração pela equipe de Gary Bettenhausen para alinhar um segundo carro em Indianápolis.

Apesar de perder a pole para Bobby Unser em seu Eagle-Offenhauser, a McLaren mais uma vez mostrou sua força e colocou seus carros em segundo, terceiro e quarto com Revson, Donohue e Bettenhausen, respectivamente. E dessa vez, a vitória veio, com Donohue. O triunfo entrou para a história como o primeiro de um carro McLaren nas 500 Milhas de Indianápolis e o primeiro da equipe Penske, que mais tarde se tornaria a maior vencedora da prova.

No ano seguinte, a McLaren fez mais uma evolução importante de seu modelo, o M16C. Para sua operação americana, ainda contratou Johnny Rutherford. Em Indianápolis, ele largou na pole, mas terminou apenas em nono. Os melhores resultados dos carros da empresa voltaram a ser de equipes clientes, com Roger McCluskey, em um M16 versão 1971, em terceiro, e Gary Bettenhausen, com a última atualização do carro, pela Penske, em quinto.

Johnny Rutherford celebra sua segunda vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, ambas com a McLaren
Johnny Rutherford celebra sua segunda vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, ambas com a McLaren (Foto: IMS)

O grande momento da McLaren viria, no entanto, em 1974. Curiosamente, depois de vários anos figurando sempre entre as primeiras posições do grid de largada, isso aconteceu em um ano em que os carros da construtora não foram tão fortes na classificação. Rutherford saiu da 25ª posição com seu M16C/D de fábrica para vencer a prova. Era finalmente a primeira vitória agora da equipe McLaren em Indianápolis, que, coincidentemente, aconteceria no mesmo ano do primeiro título da time na F1, com Emerson Fittipaldi, coroando o grande momento da empresa.

No total, Rutherford venceria quatro corridas em 1974 pelo time e terminaria o campeonato na segunda posição da classificação geral. Em 1975, ele repetiria a campanha no campeonato ao terminar com vice, com um segundo lugar em Indianápolis durante a temporada.

No ano seguinte, Rutherford conquistou o bicampeonato em Indianápolis para a McLaren, novamente em um ano de título na F1, agora com James Hunt. E pela terceira vez consecutiva, ele terminaria o campeonato na segunda posição.

O novo McLaren M24 e o fim do projeto Indy

Depois de cinco evoluções, a McLaren chegou à conclusão de que era hora de um projeto novo na Indy para 1977. Mesmo que tomasse como base a última versão do M16, a versão “E”, o novo M24 era uma evolução importante, incorporando princípios usados no M23 da F1. Além disso, ele passou usar o motor Cosworth DFX, uma versão do famoso DFV que já vinha dominando a F1 e reinaria na Indy nos anos seguintes.

Se por um lado, a McLaren não conseguiu conquistar outra vitória em Indianápolis, o M24 teve um sucesso estupendo na Indy, se tornando um dos modelos mais fortes da categoria. Em sua primeira temporada, foram seis vitórias em 14 etapas. O título mais uma vez não veio para a equipe, mas o modelo construído pela companhia levou Tom Sneva à taça pela Penske.

Aquela seria a última temporada da parceria com Roger Penske, que optaria por passar a construir seus próprios carros a partir de 1978. A McLaren seguiu com sua equipe oficial, vencendo mais duas etapas com Rutherford.

Ao final de 1979, apesar de toda uma década de sucesso na Indy, a equipe resolveu focar na F1. A decisão vinha como o começo de uma reestruturação interna da empresa, que em 1981 se fundiria com o time de categorias de base Project Four, liderado por Ron Dennis, que passaria a comandar toda a operação.

M16 e Dallara DW12: dois momentos da história da McLaren na Indy expostos na sede da empresa
M16 e Dallara DW12: dois momentos da história da McLaren na Indy expostos na sede da empresa (Foto: Andrew Ferraro/McLaren)

A McLaren voltaria à Indy somente em 2017, mas, a princípio, para correr apenas nas 500 Milhas de Indianápolis. O piloto Fernando Alonso andou com o chassi padrão Dallara preparado pela equipe Andretti e motor Honda. Ele largou em quinto e abandonou a prova com problemas mecânicos a 21 voltas do final quando era sétimo. Na segunda incursão, em 2018, agora em parceria com a pequena Carlin e propulsores da Chevrolet, Alonso não conseguiu a classificação para o grid.

Para 2020, a McLaren iniciou sua parceria com a Schmidt Peterson para o projeto de participação em toda a temporada com os pilotos Patricio O’Ward e Oliver Askew, além de um terceiro carro para Alonso em Indianápolis. O espanhol finalmente conseguiu receber a bandeira quadriculada em Brickyard, em 21º, enquanto O’Ward foi sexto.

A primeira vitória dessa nova fase aconteceu em 2021, no Textas, com O’Ward.

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