Mika Hakkinen sofreu grave acidente no GP da Austrália de 1995

O dia em que Mika Hakkinen escapou da morte Em Adelaide

O bicampeão Mika Hakkinen foi uma das figuras mais notáveis da F1 na década de 90. No entanto, anos antes de chegar aos seus dias de sucesso, o finlandês passou por um enorme susto em 1995, quando sofreu um grave acidente na Austrália que o deixou em coma.

Hakkinen temeu pela continuidade de sua carreira, e trouxe à tona novamente as discussões sobre segurança na F1, que ainda estavam quentes desde os graves acidentes durante a temporada anterior, em 1994.

O ano de 95 não vinha sendo dos mais fáceis para Mika Hakkinen. A bordo de um conjunto problemático no início da parceria entre McLaren e Mercedes, o finlandês havia pontuado em apenas quatro etapas na temporada, com dois segundos lugares como melhores resultados.

E, do ponto de vista individual, ele chegou a ficar de fora do GP do Pacífico, em outubro, por ter sofrido com uma apendicite. Para Hakkinen, o desejo de lutar por vitórias e títulos ainda parecia algo bem distante.

Em novembro, a F1 chegava para a última etapa da temporada. Era a despedida de Adelaide do calendário, já que o GP da Austrália seria transferido para Melbourne a partir de 96.

Com apenas 13 minutos de sessão na classificação de sexta-feira, Hakkinen se aproximava curva Brewery, uma das mais velozes do circuito. Na zona de frenagem, seu carro de repente escapou de traseira e rodou, e começou a saltar ao passar pela zebra, indo desgovernado em direção à barreira de proteção. O impacto foi a aproximadamente 190 km/h, atingindo primeiro o bico e depois a porção lateral esquerda do carro.

Hakkinen ficou imóvel dentro do cockpit, com a cabeça caída, o que assustou a todos que presenciaram a cena. Ele foi prontamente atendido pela equipe médica, liderada por Sid Watkins.

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O finlandês sangrava muito pelo nariz e pela boca, e, por isso, não conseguia respirar, o que começava a deixar a sua pele arroxeada. Por isso, os médicos realizaram no local uma traqueostomia, ou seja, criaram uma via aérea na traqueia para possibilitar a respiração e evitar danos cerebrais permanentes. Este fator é amplamente reconhecido como o momento que salvou a vida de Hakkinen.

Depois de 15 minutos de atendimento, o piloto foi transferido de ambulância ao Hospital Real de Adelaide, que ficava a poucos metros do local do acidente, onde foi colocado em coma na UTI, respirando com ajuda de aparelhos.

Hakkinen havia sofrido um traumatismo na base do crânio, quebrou dentes, fraturou o maxilar e feriu a língua. Ele não tinha nenhuma outra lesão pelo corpo, o que foi considerado um bom sinal. Isso porque, com o impacto, um braço de suspensão perfurou o chassi, mas passou por baixo dos joelhos de Hakkinen e não lhe atingiu.

A questão é que, com o piloto em coma, ainda não dava para ter uma noção exata de sua situação neurológica. Enquanto isso, no circuito, a F1 se perguntava: o que havia acontecido no acidente?

A causa do acidente

A hipótese que foi dada, corroborada pelas imagens, foi a de que Hakkinen sofreu um furo de 2,5 cm no pneu traseiro esquerdo, o que deixou o carro incontrolável. Segundo a McLaren, o problema apareceu de forma repentina, sem que houvesse nenhum tipo de aviso.

A Goodyear considerou que tudo foi causado por detritos na pista, até porque também foram detectados furos parecidos, mas não tão graves, nos pneus traseiros esquerdos de outros dois pilotos.

Já Michael Schumacher, Damon Hill e Gerhard Berger inspecionaram a pista para entender se havia algum ponto que poderia ter provocado o problema, como uma tampa de bueiro ou meio-fio, mas nada foi encontrado.

Um outro ponto levantado foi o fato de que o local estava protegido com apenas uma fileira de pneus, o que seria insuficiente para a velocidade do trecho. Com o impacto, a cabeça de Hakkinen sofreu do efeito chicote, batendo a cabeça com força no volante e nas laterais do cockpit.

Já estava previsto pelo regulamento um reforço na proteção lateral já para 96, enquanto que o HANS, utensílio que protege a cabeça e o pescoço do efeito chicote, só se tornaria obrigatório na F1 em 2003.

A recuperação de Hakkinen

O estado de saúde de Hakkinen progrediu de forma positiva. No sábado, um dia depois do acidente, o finlandês recobrou a consciência, mas se comunicava com dificuldades e respondia aos comandos dos médicos. A primeira coisa que perguntou quando acordou foi se o acidente havia sido causado por culpa sua.

Mas, sem o risco de morte, ainda seria necessário diagnosticar se havia permanecido alguma sequela. De início, ele sofreu danos nos nervos da face. Só para se ter uma ideia, os médicos precisavam fechar as suas pálpebras com fita adesiva para o piloto conseguir dormir, já que ele não conseguia fechar os olhos sozinho.

Hakkinen também teve a audição afetada por lesões no ouvido interno. Àquela altura, o questionamento não era nem se Hakkinen poderia voltar a correr, e sim se poderia ter uma vida normal.

Isso, inclusive, também colocava a McLaren em situação difícil, pois seria Hakkinen quem lideraria o desenvolvimento de seu carro para 96. Como David Coulthard ainda estava chegando ao time, a McLaren cogitou a possibilidade de trazer de volta Alain Prost não só para testar, mas também para correr se fosse necessário.

Só que Hakkinen continuava progredindo. Apesar de ainda sentir muitas dores e com limitações na face e na audição, ele deixou o hospital em Adelaide no começo de dezembro, continuando com sua recuperação em casa na Europa.

Em 5 de fevereiro, 97 dias após o acidente, o finlandês foi liberado para voltar a um carro de F1, e realizou um teste em Paul Ricard, confirmando que ele já estava apto a retomar a sua carreira.

A questão passava a ser como que Hakkinen voltaria, até porque a F1 havia acabado de ver o caso de Karl Wendlinger, que ficou em coma depois de um acidente, mas quando voltou já não conseguia mais ser competitivo.

Após o grave acidente em Adelaide, Mika Hakkinen não só retomou a carreira como venceu corridas e dois títulos mundiais
Após o grave acidente em Adelaide, Mika Hakkinen não só retomou a carreira como venceu corridas e dois títulos mundiais (Foto: McLaren)

E o caso de Hakkinen foi bem diferente. Ele pontuou logo na corrida de seu retorno, e pouco depois viveria a fase de maior sucesso em sua carreira. Em 97, veio a primeira vitória, enquanto, em 98 e 99, Hakkinen emendou títulos para se consolidar como um dos pilotos mais fortes de sua geração.

E ele nunca se esqueceu daquela tarde em Adelaide. De acordo com Hakkinen, o acidente lhe ajudou a controlar sua obsessão em vencer e a apreciar a vida. Anos mais tarde, o bicampeão fez uma doação em dinheiro, de uma quantia não divulgada, ao Hospital Real de Adelaide para que fosse construído um heliponto no local.

Tudo para poder retribuir aqueles que possibilitaram que a sua vida tivesse um recomeço.

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