Parceria com a Coloni foi desastrosa para projeto da Subaru na F1

Projetos de montadoras na F1 que se tornaram grandes fiascos – Parte 3

Você leu, na segunda parte do especial de dez grandes montadoras que já amargaram fiascos na F1, como desorganização, um golpe financeiro e falta de confiabilidade atrapalharam os respectivos projetos de Ford (Jaguar), Lamborghini e Peugeot na F1. Na primeira, conheceu um pouco mais as agruras enfrentadas por Alfa Romeo, Aston Martin e Bugatti.

Nesta última parte do especial, o Projeto Motor conta as quatro histórias pendentes de nossa lista de 10 grandes marcas que quebraram a cara na F1.

Uma delas é sobre a grã-renomada Porsche, que botou todo o prestígio a perder em uma grande roubada ao lado da Footwork. A segunda envolve a Subaru, tão respeitada no rali, mas que passou vexame ao lado da Coloni. Por fim, vamos rememorar a gastança desenfreada da Toyota e a falta de tino da Yamaha para lidar com uma competição tão importante sobre quatro rodas. Confira:

Porsche – apoio “rachado” levou a desastre com a Footwork

A maior vencedora das 24 Horas de Le Mans tentou investir três vezes na F1. Uma das passagens, como desenvolvedora de motores turbo para a TAG, de Mansour Ojjeh, rendeu 25 triunfos, três títulos de pilotos e dois de construtores para a McLaren na década de 80.

Uma outra, entre 1961 e 62, não é para se lembrar com tanto carinho, mas também não chega a arranhar imagens: usando um motor 4-cilindros em linha e tendo como pilotos Jo Bonnier e o polivalente Dan Gurney, a montadora alemã faturou uma vitória no GP da França de 62, com Gurney, além de uma pole no temido Inferno Verde de Nürburgring, também conquistada pelo americano, e outro punhado de pódios.

Projeto solo da Porsche na F1 em 1991 foi um desastre
Projeto solo da Porsche na F1 em 1991 foi um desastre

Já a última delas nem deveria constar nos registros oficiais da empresa. Em 1991, a Porsche tentou regressar à série como fornecedora de motores V12 para a Footwork, em um projeto para lá de confuso e desencontrado. Conforme Alex Caffi, um dos pilotos do time à época, contou em entrevista ao Tazio, em 2013, parte da alta cúpula da companhia sequer aprovava a iniciativa, que só recebeu atenção de parte dos diretores e engenheiros. Eis o relato do italiano:

“Aquele foi o pior motor que a Porsche já desenhou em sua história. A ideia era boa, mas o problema é que parte do grupo de estratégia não queria entrar na F1, então houve uma briga muito forte lá dentro e isso comprometeu o desenvolvimento.”

As consequências não poderiam ser diferentes: mal projetado, o propulsor V12 de 3,5 litros era pesado e largo – para se ter ideia, ele pesava 190 quilos, contra 137 kg do V10 da Williams – , algo que obrigou a escuderia a alterar o desenho para fazê-lo caber no cofre, comprometendo toda a distribuição de peso.

Além disso, faltava potência: eram 680 cv, contra 710 cv do V12 da Honda. Com um conjunto tão desfavorável, a Footwork se tornou quase incapaz de ficar entre os 26 mais rápidos da classificação. A vergonha foi tanta que o contrato entre as partes foi rasgado após o GP do México, e a equipe apelou aos DFR V8 da Ford-Cosworth a partir da etapa seguinte.

Subaru – parceria com Coloni foi malfadada tentativa de imitar Honda na F1

Quem diria que a Subaru, uma das marcas mais queridas pelos entusiastas da cultura do automóvel, escreveria um capítulo tão incompreensivelmente lamentável na F1? Também pudera: qual o sentido de entrar no certame, em 1990, comprando a Coloni, uma das escuderias mais desestruturadas e despreparadas que a série já viu?

A inspiração certamente veio da Honda, que usou a pequenina Spirit como laboratório para desenvolver seu motor turbo, em 83, migrando posteriormente para a Williams.

Escolha de parceira errada fez projeto da Subaru na F1 ruir
Escolha de parceira errada fez projeto da Subaru na F1 ruir

Só que, ao contrário da rival, que atraiu o interesse de times maiores ao apresentar um propulsor forte e confiável, o boxer 12-cilindros da Subaru gerava ridículos 500 cv, déficit de quase 200 cv em relação às usinas de ponta (o número só não era pior que o do vexatório W12 da Life). O projetista, coincidentemente, era Carlo Chiti, da Motori Moderni, já citado na história da Alfa Romeo.

Alie a isso o defasado e aerodinamicamente tosco chassi FC189B, quase 300 quilos mais pesado que os demais, e o mico está completo. De nada adiantou comprar 51% das ações da equipe e quitar todas as suas dívidas. A situação estava tão ruim que, após sete meses de parceria, no GP da Grã-Bretanha de 90, a Subaru anunciou que estava devolvendo o controle do time a Enzo Coloni, para voltar a ser feliz no rali.

Toyota – sobrou dinheiro, faltou competência para contratar nomes certos

Marca com resultados expressivos nas provas fora-de-estrada, a Toyota quis tentar a sorte na F1 a partir de 1999. A meta era desenvolver o projeto sem pressa e ingressar no certame em 2002. Recursos não faltavam: em março de 2001, os japoneses lançaram um TF101, um protótipo que seria usado apenas em testes para se chegar ao modelo definitivo. Longas e árduas sessões de treinos privados foram praticadas em 11 circuitos diferentes ao longo do ano, tudo em busca do nível ideal de competitividade.

Entrementes, muitas apostas erradas transformaram o projeto em uma verdadeira torneira quebrada, da qual US$ 500 milhões vazavam, anualmente, de forma descontrolada, sem qualquer resultado condizente com tamanho dispêndio.

Toyota investiu muito dinheiro, mas coletou poucos resultados na F1
Toyota investiu muito dinheiro, mas coletou poucos resultados na F1

Pagar fortunas em salários para Jarno Trulli e Ralf Schumacher, como se ambos tivessem cacife de campeões mundiais, é um exemplo muito claro de que o principal problema era fazer os abundantes recursos jorrarem na direção certa. Deixar o superestimado Mike Gascoyne por tantos anos como responsável pela direção técnica se mostrou outro grande erro.

Havia dinheiro e estrutura para mais, muito mais, mas a Toyota persistiu na mediocridade, e colheu os devidos frutos: em oito anos, gastou quase US$ 4 bilhões para disputar 139 GPs, conquistando meros 13 pódios e três poles. Pouco, muito pouco para o volume investido e as expectativas geradas.

Não é por acaso que, hoje, a segunda maior fabricante de automóveis do mundo está muito mais feliz no Mundial de Resistência, do qual foi campeã em 2014 com um orçamento que, na época de F1, serviria para pagar somente o cafezinho.

Yamaha – inexperiência pesou na luta contra grandes das quatro rodas na F1

Famosa por sua especialidade em motocicletas, a Yamaha tem histórico até bom em competições automobilísticas no Japão. Por isso, quis aproveitar o fim da primeira era turbo da F1, em 1989, para ingressar no clube e fornecer unidades V8 naturalmente aspiradas para a humilde Zakspeed.

O problema é que faltava experiência para competir de igual para igual com as principais fabricantes do planeta sobre quatro rodas, e a iminência do fiasco se cumpriu: das 16 etapas daquela estação, em apenas duas o carro conseguiu se qualificar para a largada.

Yamaha até investiu por um longo prazo, mas nunca conquistou os resultados esperados

Surpreendidos com tanta defasagem, os japoneses deram um passo para trás, revisaram a linha de desenvolvimento e regressaram só em 91, desta vez suprindo motores V12 para a valetudinária Brabham. Os resultados foram ligeiramente melhores, a ponto de garantir contrato com a promissora Jordan para a temporada seguinte. Novo desastre: a esquadra de Eddie Jordan sofreu para marcar um suado pontinho o ano todo, vindo pelas mãos de Stefano Modena na etapa derradeira, em Adelaide.

De 93 a 96, a Yamaha se aliou à Tyrrell, onde oscilou campanhas boas (94), regulares (96), decepcionantes (95) e catastróficas (93). A última aposta foi com a Arrows, em 97, sob a tutela de Tom Walkinshaw. A contratação do campeão mundial Damon Hill, contudo, fez criar em torno do projeto uma expectativa maior do que a estrutura poderia suportar.

Com exceção à quase-vitória na Hungria, o restante do ano foi de constantes reveses. Estava dada a deixa para que a Yamaha deixasse a categoria de vez, pela porta dos fundos e sem deixar nenhuma saudade.

Série Fiascos de Montadoras na F1:
Parte 1: Alfa Romeo, Aston Martin e Bugatti

Parte 2: Jaguar, Lamborhini e Peugeot

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