O ano que freou a ascensão de Rubens Barrichello na F1
Rubens Barrichello teve uma longa e bem-sucedida carreira na F1. Em seus quase 20 anos de passagem pela categoria, ele conquistou 11 vitórias, dois vice-campeonatos e 14 pole positions, incluindo em seu currículo atuações que marcaram história.
Porém, até chegar aos dias de sucesso, Barrichello enfrentou alguns contratempos que frearam a sua escalada rumo ao pelotão da frente. Um deles foi a temporada de 1995. Em um ano em que esperava crescer e até lutar por vitórias, o piloto enfrentou os mais diversos reveses, desde problemas técnicos, dificuldades de performance e desentendimentos públicos com sua equipe, e tudo em um momento delicado, pouco tempo após a morte de Ayrton Senna.
Barrichello chegou a 95 no embalo de um bom momento. Aos 22 anos de idade, ele havia terminado a campanha de 94 em um forte sexto lugar, conquistando seu primeiro pódio e pole position com o carro da Jordan, equipe que costumava ser do pelotão intermediário.
Isso até fez o seu nome ser sondado por escuderias de ponta, como a Williams pouco após a morte de Ayrton Senna, ou na longa novela com a McLaren, que já contamos aqui no Projeto Motor.
Mas Rubinho decidiu apostar suas fichas na permanência na Jordan. Como a equipe vinha em fase de crescimento, Barrichello considerava que seriam necessários apenas alguns ajustes para ela se tornar um time de ponta.
E, para ele, isso viria justamente em 95. A Jordan trocaria os motores independentes da Hart por uma parceria de fábrica com a Peugeot, sendo que a fabricante francesa não mediria recursos para obter sucesso na F1.
E tudo parecia caminhar bem. A Jordan foi a primeira equipe a apresentar o seu novo carro, lembrando que o regulamento técnico passava por profundas mudanças. O modelo 195 contava com um novo câmbio de sete marchas, e uma nova configuração de pedais obrigava os pilotos a guiarem no estilo do kart, acelerando com o pé direito e freando com o pé esquerdo.
Depois dos primeiros testes de pré-temporada, Barrichello era só otimismo. O piloto elogiava o comportamento do chassi e o rendimento do motor Peugeot, e acreditava que a Jordan tinha tudo para se tornar mais uma equipe grande.
O seu objetivo realista era lutar constantemente por pódios e conquistar vitórias, o que seria uma tremenda subida de patamar. Fora das pistas, Barrichello também estava em alta, com novos patrocinadores pessoais e se tornando uma figura cada vez mais popular.
A dura realidade de Barrichello no começo da temporada
A abertura do campeonato foi justamente em Interlagos, no primeiro GP realizado no Brasil após a morte de Ayrton Senna. Rubinho, que esperava competir em pé de igualdade com o campeão Michael Schumacher, agitou a torcida com aumentando a expectativa durante entrevistas na semana anterior à prova e ainda utilizou um capacete em homenagem a Senna.
Só que quando foi para a pista, o brasileiro teve um fim de semana repleto de problemas, com falhas mecânicas e erros de pilotagem. Ele foi apenas o 16º no grid, oito posições e mais de 1s atrás de seu parceiro Eddie Irvine. A corrida durou pouco, já que seu câmbio quebrou ainda na fase inicial de prova. Foi uma gigantesca ducha de água fria.
A maré negativa durou por um bom tempo. Barrichello continuava superado por Irvine em classificações, e acumulava abandonos por quebras. A primeira vez que ele recebeu a bandeirada foi na Espanha, com o toque dramático de que ele foi ultrapassado na última volta, com problemas acelerador, e, assim, ficou fora dos pontos.
Isso afetou e muito a reputação de Barrichello na época. Gary Anderson, o diretor técnico da Jordan, disse que o brasileiro “não era mais o mesmo piloto de antes”, e que estava adotando uma postura muito mais individualista. Mais ou menos na mesma época, o programa humorístico Casseta e Planeta, da TV Globo, criou o “Rubinho Pé de Chinelo”, um personagem que era lento e que tinha muito azar.
Do outro lado, Barrichello também não estava na feliz com os problemas da Jordan, o que deixava a relação com a equipe bastante tensa. Na verdade, as dificuldades de Barrichello até tinham uma explicação. Lembra que o carro obrigava os pilotos a frearem com o pé esquerdo? Pois Barrichello não havia se adaptado a isso. Nas retas, o seu pé ficava apoiado levemente no pedal do freio, o que diminuía sua velocidade nas retas, superaquecia o motor e aumentava o consumo de combustível.
A Jordan até tentou implementar uma solução eletrônica, mas o problema persistia. Então, a partir do GP do Canadá, a Jordan fez uma mudança mais drástica na construção do modelo, o que permitia a Barrichello frear com o pé direito, assim como fazia até 94.
Isso trouxe resultados imediatos. Em Montreal, Barrichello brilhou em uma corrida de sobrevivência, e recebeu a bandeirada em segundo lugar, o seu primeiro pódio naquele ano e o melhor resultado da carreira até então. Na França, conseguiu superar Irvine pela primeira vez em uma classificação em 95, e voltou a pontuar.
Mas a maré ruim não demorou a voltar. Em Silverstone, foi punido por queimar a largada pela terceira vez no ano, e bateu com Mark Blundell a duas voltas do fim, quando lutava pelo quarto lugar.
Já na Hungria, veio seu momento mais cruel do ano. Depois de uma longa corrida de recuperação, Barrichello era o terceiro colocado até a última curva da última volta, quando sofreu mais uma quebra no motor e não conseguiu cruzar a linha de chegada.
O detalhe é que a Peugeot contava com um sistema de proteção, que desligava o motor quando havia uma perda de pressão, para evitar explosões que causariam danos maiores. Caso este sistema não existisse, Barrichello até teria uma chance de cruzar a linha de chegada no embalo e subir no pódio.
Consequências no mercado de pilotos
Naquela altura, as negociações para 1996 estavam um turbilhão, e o nome de Rubinho perdeu um pouco de força. Schumacher havia anunciado sua transferência para a Ferrari em 96, o que abria uma vaga cobiçada na Benetton. Barrichello se tornou um sério candidato ao posto, e esteve perto de fechar um acordo, mas de última hora o escolhido foi o veterano Gerhard Berger.
Então, em setembro, a Jordan anunciou a renovação de Barrichello e Irvine para 96, o que representaria o quarto ano seguido do brasileiro na equipe. Mas ainda haveria mudanças importantes no horizonte.
Poucos dias depois, a Ferrari contrataria Irvine, pagando a multa rescisória do contrato que o piloto havia acabado de assinar. Na época, Barrichello garantiu que não ficou com a vaga por escolha sua, por não querer servir de segundo piloto para Schumacher.
Um último momento de destaque veio em Nurburgring, quando Rubinho foi o quarto colocado – inclusive tendo de superar um susto com um exame antidoping, por ter usado um descongestionante nasal que continha uma substância proibida. Mas ele terminou o ano com dois abandonos por acidentes, no Japão e na Austrália.
No término de uma temporada em que esperava estar no pelotão da frente, Barrichello foi apenas o 11º no campeonato. Ele ficou uma posição à frente de Irvine, mas, em disputas na classificação, foi derrotado por 12 a 5.
Depois, em 1996, Barrichello até teve fortes momentos com a Jordan. Porém, ele não teve o seu contrato renovado com o time para 97, quando precisou reconstruir o seu caminho pela novata equipe Stewart. Na nova casa, Rubinho voltou a brilhar, o que enfim lhe rendeu a chance em um time de ponta, pela Ferrari, em 2000.
De todo modo, até enfim conseguir vencer na F1, Barrichello precisou superar obstáculos, e o ano complicado em 95 definitivamente foi um deles.
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