Nelson Piquet venceu o GP da Itália em Imola, em 1980

A vitória de Piquet em Imola no único GP da Itália fora de Monza

GP da Itália e Monza são praticamente sinônimos na F1. Mas sabia que Imola estreeou na F1 entrando no meio dessa grande história? Aconteceu em apenas uma oportunidade, mas logo fez com que o evento da Emilia Romagna se tornasse uma tradição através de outro nome, GP de San Marino, através de um acordo comercial.

Junto com o Reino Unido, o “país da bota” é o único a constar no calendário em absolutamente todas as temporadas. De 1950 a 2015, 66 etapas da categoria foram realizadas lá. Dessas, 65 ocorreram no templo da região da Lombardia, quase ao extremo norte do território itálico. Trata-se de um recorde que muito, muito dificilmente será superado algum dia – especialmente se a terrível ameaça de o circuito deixar o circo não se concretizar.

O nobre leitor certamente já terá se dado conta de que, se houve 66 GPs da Itália e 65 deles foram em Monza, um aconteceu n’outro local. Fato. A exceção se deu em 1980, há exatos 35 anos. Na tarde daquele 14 de setembro, 24 pilotos partiram para o primeiro páreo oficial do certame realizado no autódromo de Imola.

A praça bolonhesa, um pouco menos veloz do que Monza, embora também rápida, ficaria famosa posteriormente por sediar o fictício GP de San Marino, prova que usava o nome do microestado, localizado como um enclave dentro do território italiano, para diferenciar, a partir de 81, as duas corridas organizadas no mesmo país. Mais do que isso, seria marcada como palco da morte de Ayrton Senna, isso já 14 anos mais tarde.

Regressando a 1980, é preciso explicar por que Monza foi limada da lista. Duas estações antes, Ronnie Peterson morreu vítima de um acidente na largada da edição de 78, muito por conta de uma falha estrutural terrível: o traçado se afunilava abruptamente na transição da reta dos boxes para a primeira chicane.

Alie isso ao fato de que aquela foi a primeira vez que experimentaram um inovador sistema de largada por semáforos, e que a direção autorizou a luz verde sem que todos os competidores estivessem parados na grelha. Pronto: quem vinha de trás partiu com o carro já em movimento, fazendo com que todos chegassem agrupados demais no trecho em que o asfalto se estreitava.

A catástrofe deixou em carne viva os problemas de segurança de Monza. A Foca – associação dos construtores, então liderada por figurões como Bernie Ecclestone, Max Mosley e Ken Tyrrell – exigiu que seus administradores providenciassem soluções se quisessem continuar fazendo parte do circo. Para pressioná-los ainda mais, assinou contrato com Imola para sediar uma prova extra-campeonato em 79 e, na estação seguinte, o GP da Itália. Quando setembro chegou, Monza já havia concluído as adaptações necessárias para regressar, mas aí era tarde: o evento ocorreria mesmo em Imola.

A estreia de Imola

Partiram, então, os ases para fazer seu trabalho. Como virara praxe, os dois Renault empurrados por motor turbo ocuparam a primeira ala do grid, com René Arnoux à frente de Jean-Pierre Jabouille. Bruno Giacomelli foi a surpresa da segunda fila, em quarto, ao lado de Carlos Reutemann. Os dois postulantes ao título, Nelson Piquet e Alan Jones, partiram em quinto e sexto, respectivamente.

Alan Jones puxa a fila com sua Williams em Imola
Alan Jones puxa a fila com sua Williams em Imola

Dada a luz verde, Reutemann arrancou melhor, porém sentiu uma falha de embreagem e ficou para trás, deixando a ponta para Arnoux. Este, por sua vez, iniciou um calvário particupar a partir da terceira passagem, ao perder  pressão no turbocompressor e ser superado por Jabouille e Piquet na mesma volta. Pouco depois, perderia posição também para Jones.

Um giro mais tarde, o brasileiro da Brabham mostrou que estava em grande tarde e ultrapassou o piloto-engenheiro, assumindo uma liderança que não deixaria mais até a bandeirada. O australiano da Williams seguiu o caminho do rival apenas no 29º giro, colocando as duas grande estrelas daquela temporada em condição de dobradinha. Com Arnoux cada vez mais lento e Jabouille fora de ação por uma falha de transmissão, Reutemann se arrastou com a embreagem claudicante do FW07 até cruzar em terceiro, a distante 1min13s do vencedor.

O evento ficou marcado ainda por um horripilante acidente de Gilles Villeneuve, então sofrendo na problemática Ferrari. O canadense bateu de forma voraz na veloz curva à direita que antecede a Tosa, por conta de um furo no pneu. Por sorte, o canadense nada sofreu, mas o lance levaria a perna (que hoje é uma variante) a ser batizada com seu ilustre sobrenome.

Com o triunfo, Piquet alcançou uma marca importante: pela primeira vez na carreira se viu na liderança do Mundial de Pilotos, com um pontinho de vantagem sobre Jones. Entretanto, devido ao regulamento de descartes, muita coisa poderia mudar na etapa seguinte, em Montréal. A história da etapa canadense fica para uma próxima publicação.

O mais importante nessa história toda é que, passada a turbulência, o GP da Itália voltou ao seu habitat natural. De Monza saiu, para Monza voltou, de Monza nunca deveria ter se despedido. Para Ímola continuar fazendo parte da festa, só mesmo fingindo ser membro de outra nação.

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