Eau Rouge é uma das curvas mais icônicos da F1
(Foto: Mercedes)

A sequência Eau Rouge e Raidillon ficou perigosa demais para a F1?

A segurança é um dos assuntos mais sensíveis para a F1. De tempos em tempos, a categoria implementa mudanças visando à maior proteção não apenas dos pilotos, mas também de fiscais de pista e torcedores na arquibancada. No momento, a bola da vez é justamente um dos cartões postais do Mundial: o complexo Eau Rouge/Raidillon, no circuito de Spa-Francorchamps. 

Alguns incidentes nos últimos anos acenderam a questão: aquele ponto da pista se tornou perigoso demais para os padrões da F1? É possível usar o trecho no formato atual? E as outras categorias que têm carros com menos pressão aerodinâmica?

Algo que obviamente causa mais polêmica nos questionamentos é que o setor da discórdia é um dos mais clássicos não apenas do circuito de Spa, mas também de toda a história da F1, o que representa uma das mais belas paisagens da categoria. O trecho é dividido em duas partes: a curva Eau Rouge é o ponto mais baixo. O nome significa “água vermelha” em francês, em referência ao riacho com tom avermelhado que passa por debaixo da curva. Depois, os carros chegam à Raidillon, termo do francês que se refere a “ladeira”, o que descreve bem a subida abrupta de 40 metros no setor. 

Esta mudança brusca da subida para a descida impõe grandes forças aos carros e pilotos, e também traz um desafio de visibilidade. Afinal, quando chegam ao topo da colina, os pilotos não conseguem enxergar totalmente o trecho da saída da curva. Por isso, é preciso ter muita confiança para dar o mergulho e subir sem perder muito tempo – especialmente porque a longa reta que vem a seguir é um setor muito importante para ultrapassagens. 

Histórico de acidentes na Eau Rouge e Raidillon

A mistura das carecterísticas citadas acima já rendeu momentos perigosos e trágicos neste trecho. Só para citar alguns casos: em 1985, o promissor Stefan Bellof morreu nos 1000 km de Spa, quando bateu após uma tentativa de ultrapassagem na Eau Rouge. Já em 1993, Alessandro Zanardi se lesionou após um forte acidente com sua Lotus. O trecho até foi temporariamente modificado para 94, para diminuir a velocidade no local, mas a configuração original voltou em 95. 

Com o passar do tempo, os carros foram ganhando mais pressão aerodinâmica, de modo que gradativamente se tornou mais viável contornar Eau Rouge e Raidillon com o pé cravado no acelerador. Mas, se por um lado isso diminuía a probabilidade de perder o controle do carro no local, por outro aumentou bastante as velocidades, o que acabou gerando um problema secundário – envolvendo não apenas a F1, mas outras categorias também. 

Considerando o perfil da curva e a estrutura de seu entorno – como a presença das arquibancadas e da floresta pouco atrás, a barreira de proteção de pneus possui um ângulo que pode ter duas consequências distintas em acidentes no local. Se o piloto perde o controle do carro na entrada da Raidillon, ele vai bater praticamente de frente em alta velocidade. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Pietro Fittipaldi em 2018, quando fraturou as duas pernas em um acidente do WEC. 

Contudo, se a perda do controle se dá do meio para a saída da curva, o ângulo da barreira pode arremessar o carro de volta para a pista depois do impacto, o que é potencialmente perigoso levando em conta a alta velocidade e a falta de visibilidade no topo da colina. Esta dinâmica gerou dois acidentes de consequências graves nos últimos anos.

Em 2019, na F2, Giuliano Alesi bateu na saída da Raidillon e foi jogado de volta para o traçado de corrida. Os pilotos que vinham atrás tiveram de desviar rapidamente, incluindo Anthoine Hubert, que jogou seu carro para a direita e bateu na barreira de proteção do lado direito. Ele também foi arremessado para o sentido da pista, mas ainda na área de escape, e foi atingido em cheio por outro carro que vinha atrás, de Juan Manuel Correa. O impacto matou Hubert aos 22 anos. 

Coisa parecida também aconteceu nas 24 Horas de Spa de 2021. Jack Aitken bateu na Raidillon, voltou para a pista e isso desencadeou um acidente que envolveu outros três carros, o que rendeu fraturas na vértebra e clavícula para Aitken. 

Aliás, para este ano, uma característica diferente deixou a situação mais delicada. Lewis Hamilton observou uma ondulação na entrada da Eau Rouge que não existia antes, e até suspeita que as fortes chuvas e inundações que atingiram o circuito em junho tenham afetado a estrutura da pista. Coincidência ou não, o GP da Bélgica de 2021 teve um fim de semana bastante acidentado no trecho, não apenas na F1 mas também nas categorias suporte. 

O que se está planejando fazer no trecho

Mudanças previstas para o complexo Eau Rouge e Raidillon apresentadas pela administração do autódromo para 2022
Mudanças previstas para o complexo Eau Rouge e Raidillon apresentadas pela administração do autódromo para 2022 (Imagem: Circuito de Spa-Francorchamps)

A administração do circuito de Spa garante estar ciente do problema e já havia anunciado, em outubro de 2020, mudanças para o futuro – não apenas para aumentar a segurança dos carros, como também para possibilitar corridas de moto. O plano consiste em mexer em vários pontos, mas mantendo o traçado atual. Na Eau Rouge e Raidillon, a intenção é construir uma nova arquibancada no local, ampliar a área de escape e alterar o ângulo das barreiras de proteção. 

A FIA acredita que estas mudanças previstas já para os próximos anos serão suficientes para resolver estes problemas no local, e ainda assim manter todo o charme e o desafio de Spa. Em contrapartida, nomes como o bicampeão Fernando Alonso acreditam que, mesmo que algumas batidas específicas sejam evitadas, o local ainda trará alguns riscos por ser um ponto de velocidade tão alta. 

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