Spa passa por reformas para se modernizar, mas futuro na F1 é incerto
A F1 volta ao circuito de Spa Francorchamps no próximo final de semana (28), um ano após o polêmico GP da Bélgica que, com muita chuva, teve apenas três voltas sempre atrás do safety car. Aquele final de semana também ficou marcado por diversos acidentes na Eau Rouge tanto na categoria principal como nas de base, em especial de Lando Norris, na classificação.
O trecho da sequência das curvas Eau Rouge e Raidillon já vinha sendo ponto de muita discussão há muito tempo. O histórico de acidentes naquele ponto é imenso, inclusive com muitos fatais. Entre os mais recentes, é possível lembrar o de 2019 na F2, que acabou com a morte de Anthoine Hubert.
A administração do circuito de Spa já vinha trabalhando em um projeto de modernização do circuito e buscando soluções para melhorar a segurança da pista sem tirar os desafios tradicionais. Não é uma tarefa fácil, ainda mais considerando a localização em meio a uma floresta e a estrutura de um autódromo que completou 100 anos em 2021, e que neste tempo já passou por diversas alterações.
As obras começaram em setembro de 2021. A primeira fase do projeto foi completada alguns meses depois, em maio de 2022, após trabalho durante o intenso inverno da região. Diversas adequações como remodelação de áreas de escape, reasfaltamento de pelo menos cinco trechos diferentes, e a criação opções de traçado foram realizadas. Tudo para manter a pista dentro dos padrões mais altos de exigência da FIA, mesmo para um autódromo tão antigo, mantendo o circuito principal que recebe a F1 nos últimos anos praticamente intacto.
A reforma ainda fez com que o circuito pudesse receber o grau C da FIM (Federação Internacional de Motociclismo), o que a levou de volta ao calendário do Mundial de Endurance de Motovelocidade, com as 24 Horas de Spa. A etapa aconteceu no último mês de junho (imagens abaixo).
Principais mudanças em Spa
Novamente é bom salientar que, no geral, o traçado utilizado pela F1 não foi modificado. Porém, com a alteração das áreas de escape, o novo visual da pista pode chamar a atenção do público. Uma dessas questões é que, por conta das exigências especificamente para corridas de motos, devemos ver mais áreas de escape com brita em pontos que nos últimos anos já tinham sido totalmente asfaltados.
Logo na primeira curva, La Source, a área de escape na saída da tomada, tradicionalmente de asfalto, ganhou um pequeno trecho de brita antes do guardrail. Além disso, a descida na reta seguinte ganhou mais espaço à esquerda com área com grama com a remoção da antiga arquibancada.
A mudança na sequência da Eau Rouge e Raidillon foi uma das mais analisadas e estudadas pela necessidade de aumento de segurança no trecho, mas sem alterar a curva, um dos símbolos de Spa. Assim, a escolha foi feita por um redesenho da área de escape.
Para isso, a antiga arquibancada no local foi destruída. Assim, o guardrail na saída da Eau Rouge foi recuado em 10 metros e seu ângulo à esquerda da Raidillon ficou mais aberto. Acredita-se que, desta forma, quando um carro bater ali, ele não vai ser arremessado de volta para a pista como vinha acontecendo com certa frequência, diminuindo a chance de batidas em “T” com outro competidor que vinha atrás. Do lado direito da saída da Raidillon, o guardrail também foi recuado em 10 metros.
Uma nova arquibancada, maior, mais moderna e com uma vista mais ampla, também foi construída naquele ponto. O trecho de corrida em si recebeu apenas um recapeamento, sem sofrer alteração no traçado.
A Les Combes e a Bruxeles também ganharam mais espaço de área de escape com brita antes de seus guardrails nas partes externas da pista. Em seguida, a Speakers Corner ganhou uma nova opção de traçado mais fechada do que a utilizada pela F1 para as corridas de motos.
A sequência rápida de duas curvas da Double Gauche, a Stavelot, a famosa e veloz Blanchimont e a chicane antes da reta dos boxes também ganharam todas áreas de escape maiores e com brita antes dos guardrails.
Na infraestrutura, novas arquibancadas em concreto e melhorias nos acessos do autódromo para o público foram realizadas. O um novo Centro Médico para primeiros socorros a pilotos e outras pessoas que necessitem de atendimento rápido no circuito foi construído.
Futuro da tradicional praça belga
Em 1950, no primeiro Mundial de F1, sete pistas fizeram parte do calendário oficial, contando com Indianápolis. O GP da Bélgica já estava lá com Spa-Francorchamps. Com o passar do tempo, a prova nem sempre fez parte da programação, e várias de suas edições foram realizadas em outras pistas, como Zolder e Nivelles.
Mesmo assim, o GP da Bélgica é o quarto da história com mais edições na F1, com 66 corridas, atrás apenas de Grã-Bretanha, Itália e Mônaco. E Spa também é o quarto circuito que mais recebeu provas, 54, atrás de Monza (71), Mônaco (68) e Silverstone (57).
E apesar de toda essa tradição e das recentes reformas para modernização, o GP da Bélgica e a corrida em Spa não estão a salvo no calendário da F1. O atual contrato termina em 2022 e a renovação para a próxima temporada está longe de garantida, ainda mais com a chegada de novas provas, como Las Vegas, e uma programação que já está bastante apinhada com 22 provas.
A organização e o governo local, que financia o circuito e o GP da Bélgica, sabem disso e por isso já anunciaram que além dos 25 milhões de euros já investidos neste ano, outros 55 milhões de euros estão programados para melhorar ainda mais a estrutura do autódromo e cercanias nos próximos anos.
Com tudo isso, já existe uma garantia em 2022, por exemplo, de eventos de automobilismo, motovelocidade ou ciclismo em praticamente todos os finais de semana em Spa até o final de novembro. Pode parecer que isso não tem muito a ver com a F1, mas apenas com mais eventos é possível manter uma estrutura maior no autódromo para que ela seja utilizada depois no GP da Bélgica nos mesmos moldes de corridas mais novas.
“Eles [administração da F1] disseram que história é ótimo, mas precisamos de mais”, explicou Stijn de Boever, diretor comercial do GP de Spa, ao site americano Motorsport. “Decidimos escutar e seguir o novo jeito deles de organizar eventos da F1. O jeito americano, com todo o entretenimento que acompanha isso”, continuou.
“Estamos planejando todo tipo de entretenimento, com DJs, eventos exclusivos, zonas de fãs e ativações no entorno do circuito. Você pode dizer que nosso GP lendário também terá o brilho necessário. Se quisermos continuar recebendo corridas no futuro, vamos ter que nos modernizar.”
Spa trabalha com esse pensamento até pelo crescimento do calendário com mais corridas nos EUA (Austin, Miami e Las Vegas) e Oriente Médio (Bahrein, Abu Dhabi, Arábia Saudita e Catar), o que está espremendo os GPs mais tradicionais. Um plano da F1 para o revezamento de algumas provas, no estilo ano-sim-ano-não, também está sendo estudado para os próximos contratos como forma de simplesmente não acabar com alguns GPs mais tradicionais.
Por enquanto, o GP da Bélgica e Spa-Francorchamps lutam para permanecer.
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