(Reprodução/Twitter F1)

Por que os pilotos deixam rivais passarem na linha de detecção do DRS

O DRS, sigla em inglês para sistema de redução de arrasto, é um dos artifícios mais importantes para ultrapassagens na F1 nos últimos anos. Trata-se da asa móvel, como o dispositivo ficou mais conhecido no Brasil.

Aqui no Projeto Motor, já explicamos os detalhes de como funciona a regra e o sistema do DRS para utilização pelos pilotos. Mas nos últimos tempos, com o aumento do número de zonas em que o sistema pode ser utilizado, sendo que a FIA tem colocado trechos consecutivos em vários circuitos, tem ficado mais latente que saber usar o artifício estrategicamente é essencial para ter mais benefícios.

E se tem um piloto que já mostrou isso no passado e, de novo, no último GP da Áustria (02), é Max Verstappen. O holandês claramente chega a evitar fazer uma ultrapassagem em certo ponto do traçado para não ficar vulnerável no seguinte, também com zona de DRS, e poder realizar o ataque em um momento que não dá chance para os rivais tentarem um retorno.

De forma até polêmica, ele escancarou essa tática há dois anos, no GP da Arábia Saudita de 2021. Ele estava logo à frente de Lewis Hamilton, mas como tinha usado uma manobra ilegal para permanecer na liderança, a direção de prova mandou que ele devolvesse a posição para o adversário.

O que Verstappen fez foi tentar deixar Hamilton passar logo antes do ponto de detecção da asa móvel, que verifica se o carro de trás está dentro da diferença máxima de um segundo em que pode abrir a asa. Percebendo a estratégia do rival, Hamilton freou atrás do piloto da Red Bull para não fazer a ultrapassagem. Verstappen diminuiu ainda mais a velocidade e os dois chegaram a se tocar no meio de uma reta.

Pouco depois, Verstappen novamente deixou Hamilton passar no mesmo ponto e conseguiu atacar para fazer a ultrapassagem novamente. Só que a direção de prova não aceitou a manobra e mandou o holandês ceder novamente a posição.

Em 2022, foi a vez de Verstappen e Leclerc travarem mais uma briga estratégica na linha de detecção do circuito saudita. Os dois freavam bruscamente antes da última curva para tentarem estar atrás no ponto em que o sistema detecta quem terá o direito de usar o DRS na curva seguinte, o que causava momentos estranhos de pilotos lutando para não estarem à frente.

No GP da Áustria de 2023, vimos mais uma vez Leclerc e Verstappen de olho no uso tático do DRS enquanto ficou evidente a falta de visão dessa situação para o outro piloto da Red Bull, Sergio Pérez, quando brigava com Carlos Sainz.

Leclerc e Verstappen brigam para ficar atrás na linha do DRS

Assim como já tinha acontecido no GP da Arábia Saudita de 2022, Leclerc e Verstappen mostraram ser dois pilotos bastante atentos à questão da linha de detecção do DRS. O circuito da Áustria tem três pontos de abertura da asa móvel praticamente consecutivos. Uma é na reta dos boxes, em seguida entre as curvas um e três e depois entre a três e quatro.

Em pistas em que a ultrapassagem é complicada, conseguir a posição de pista é sempre importante, seja qual for o ponto do traçado. Mas em circuitos como do Red Bull Ring (assim como Jeddah), ganhar a posição em um ponto antes da última área de utilização de DRS pode ser um tiro no pé.

Mapa com os pontos de detecção e zonas de utilização do DRS no circuito de Red Bull Ring (Reprodução/F1)
Mapa com os pontos de detecção e zonas de utilização do DRS no circuito de Red Bull Ring (Reprodução/F1)

Após a primeira parada de Verstappen no GP da Áustria deste domingo (02), Verstappen retornou atrás das duas Ferrari e teve que partir para cima dos adversários vermelhos para reconquistar a ponta. E na briga pela liderança com Leclerc, a visão estratégica de ambos sobre a questão ficou clara.

O ponto de detecção para do DRS fica em plena freada da curva três. Verstappen vinha atrás já com a asa móvel aberta, mas preferiu não completar a ultrapassagem antes da linha do sistema. Leclerc, porém, também freou antes da linha, se mantendo por fora, meio que jogando uma isca para o holandês mergulhar na frente. A ideia era ter o DRS contra o rival no trecho antes da curva quatro, o que praticamente lhe garantiria a posição por mais uma volta inteira.

Não deu certo porque Verstappen se manteve atrás no ponto da linha de detecção, conseguiu a ultrapassagem já na curva três e depois, mesmo à frente, teve a chance de utilizar o DRS para se manter na ponta, enquanto Leclerc não tinha a asa móvel disponível para tentar uma reação na curva quatro.  

Em meio a tantas questões que os pilotos precisam prestar atenção enquanto dirigem a mais de 300 km/h, é algo impressionante pelo lado de ambos. E nada óbvio, como vimos na mesma corrida, em outro momento, com outros pilotos.

Pérez tomou olé de Sainz por não se atentar à tática

Mais tarde na corrida, Sergio Pérez brigava com Carlos Sainz pela terceira posição. E o espanhol conseguiu manter a posição por mais voltas que o esperado, mesmo com um carro inferior e pneus mais gastos, por utilizar o ponto de detecção do DRS de forma estratégica.

Pérez vinha sempre muito próximo após a curva um, Sainz trazia para o lado esquerdo da pista, ficando por fora da rápida tomada da dois e por dentro da seguinte. A linha que mede a diferença entre os carros para o sistema da asa móvel fica exatamente neste ponto. Mais veloz, Pérez acabava ficando na frente ali.

O resultado é que na reta seguinte, era Sainz que tinha a possibilidade de usar o DRS na última zona de utilização do dispositivo. Ou seja, se saísse na curva três atrás, conseguia dar o troco na quatro. E se no contorno por dentro conseguisse sair na frente, tinha o dispositivo para se defender de qualquer jeito enquanto Pérez não tinha o artifício.

Pérez conseguiu fazer a ultrapassagem após algumas voltas, mas a demora extra pode ter lhe custado uma chance de tentar se aproximar de Leclerc pelo segundo lugar. É uma mostra da diferença que faz um piloto que presta atenção em todas as questões que envolvem a corrida.

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