Red Bull passará a produzir motores em sua sede na Inglaterra
(Foto: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull Content)

Entenda o congelamento de motores e o projeto da Red Bull para 2025

No ano passado, a Honda surpreendeu muita gente ao anunciar que iria sair da F1 ao final de 2021. Dessa forma, ela parecia estar deixando na mão sua parceria, Red Bull, que provavelmente teria que voltar a buscar a Renault, com quem terminou sua relação de uma forma não muito amigável alguns anos antes.

Só que por uma questão de timing, a desistência da Honda, que também não é boa para a F1 pela perda de uma de suas quatro atuais montadoras, se tornou uma grande oportunidade tanto para a Red Bull quanto para a categoria.

Isso aconteceu porque a saída da fabricante japonesa obrigou as outras marcas que produzem motores a se sentarem com a FIA e F1 para começarem a discutir o futuro das unidades potências. E a conclusão é que existe uma janela para acelerar a introdução de um novo regulamento para substituir o atual pacote, que não é exatamente amado pelos fãs, além de serem caros. Muito caros.

Pelo lado da Red Bull, surgiu então a ideia de uma negociação com a Honda, que venderia seus projetos, direitos de propriedade intelectual e tecnologia para que a equipe seguisse por suas próprias pernas com os motores japoneses, sem precisar apelar para um dos concorrentes.

Só que para o time da empresa de energéticos, abrir uma divisão de desenvolvimento de propulsores já para 2022 será algo quase inviável tanto do ponto de vista técnico como financeiro.

Por isso, a Red Bull iniciou uma batalha política para que as unidades de potência fossem congeladas a partir da próxima temporada. A discussão chegou ao fim na última semana, com o time conseguindo algo próximo do que queria. E mais, a decisão acabou se mostrando algo muito maior do que manter a Red Bull, já que se tornou o caminho para pavimentar a próxima geração de motores da F1.

O congelamento de motores da F1

O que significa congelar os motores? Basicamente, a partir do início da temporada de 2022, as unidades de potência serão homologadas pela FIA e as fabricantes não poderão mais desenvolver seus produtos.

As quatro atuais fornecedoras poderão seguir com evoluções de seus motores durante 2021, inclusive desenvolvendo adaptações para a mistura com uma porcentagem maior de combustível sintético que será utilizada já na próxima temporada. Depois disso, até o final de 24, ninguém mais vai poder mexer em nada, a não ser que seja por questões de segurança ou confiabilidade comprovadas.

A discussão em torno do congelamento ganhou tração no ano passado quando a Honda anunciou que iria deixar a F1 e logo de cara a possibilidade da Red Bull assumir seus motores ficou em aberto. Só que o time austríaco apontou que se o desenvolvimento não fosse paralisado, ele não teria como tocar o projeto pela falta de tempo e a necessidade de um investimento enorme para assumir este tipo de trabalho, no mesmo nível de fabricantes como Mercedes, Ferrari e Renault.

Red Bull e Honda venceram juntos cinco corridas na F1 (Foto: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull Content)

A princípio, as concorrentes não gostaram muito da ideia. Só que a coisa começou a ganhar corpo quando entrou na pauta o novo regulamento de motores. Dirigentes da F1 e FIA enxergaram a possibilidade de adiantar a introdução de um novo motor para a categoria para 2025 e o congelamento de desenvolvimento nos três anos anteriores seria uma forma das marcas não precisarem fazer um investimento duplo, podendo focar sua verba e recursos técnicos apenas nos novos propulsores.

Desta forma, após meses de conversas, foi aprovado na última quinta-feira (11) o congelamento de motores para as temporadas de 2022, 23 e 24. Apenas quatro dias depois, nesta segunda-feira (15), a Red Bull anunciou que fechou negócio com a Honda para assumir seus motores e passará a construir e fazer toda a manutenção dos equipamentos.

E mais. Com esse período de três anos sob congelamento, a Red Bull terá a chance de desenvolver sua nova divisão interna de motores para em 25 estar confortável com a empreitada de desenvolver e produzir sua própria unidade de potência, sem depender de nenhum fornecedor.

O projeto da Red Bull

A Honda ainda será a fornecedora de motores da Red Bull até o final de 2021 e promete seguir investindo no desenvolvimento do propulsor até o final da temporada para o deixar competitivo. Neste meio tempo, as duas organizações fizeram um acordo de transferência de tecnologia. Ou seja, durante o ano, os japoneses vão aos poucos transmitir o conhecimento técnico de sua tecnologia, processos e tudo mais sobre seu motor para que a equipe de F1 possa operar sozinha a partir de 22.

Além disso, o chefe da Red Bull, Christian Horner, já avisou que a equipe irá contratar os engenheiros que ficarem disponíveis por parte da Honda para seu novo departamento de motores. Em um segundo passo, também poderá fazer recrutamentos de pessoas que venham de fora do projeto.

Ao contrário do que se esperava, a Red Bull não pretende rebatizar com o nome de outra marca seus motores, como fez uma época com a Renault, em que comprou os direitos do propulsor e vendeu para a TAG.

O passo mais interessante que deixou de ser apenas um rumor é da Red Bull se tornar uma fabricante de motores real. Horner deixou claro que o time pretende durante os anos de congelamento investir em expertise e estrutura técnica e física para produzir seus próprios motores da nova geração, que chegará em 25.

“Acho que assumimos o controle do nosso próprio destino neste aspecto, integrando a unidade de potência ao chassi. Vamos ter uma estrutura capaz de projetar e operar a próxima geração de motores com uma estrutura que vamos construir aqui [em Milton Keynes, atual base da Red Bull].”

Christian Horner, chefe da Red Bull

Ele também não descartou a parceria técnica ou puramente comercial com alguma nova montadora, mas insistiu que a partir de agora, os motores dos carros da Red Bull serão produzidos na base do time, com os engenheiros do grupo.

É um projeto realmente audacioso e que também consolida ainda mais a Red Bull na F1 como uma jogadora de longo prazo. Uma marca que entrou na categoria como patrocinadora de pilotos, depois de equipes, se tornou proprietária de um time médio, venceu campeonatos, formou uma série de pilotos e agora pretende até mesmo construir seus próprios motores.

A nova geração de motores

Na própria reunião do dia 11, que além das montadoras, FIA e F1, também estiveram representantes das equipes, ficou acordado que ainda em 21, será formado um Grupo de Trabalho para desenhar as regras dos novos motores. O objetivo é que tudo esteja acertado até algum momento de 22, para que todos tenham tempo de iniciar seus novos projetos.

A F1 pretende ter um pacote novo a partir de 2025, substituindo os atuais V6 de 1,6 litro híbrido turbo. Diversos caminhos estão sendo estudados, alguns bastante radicais, outros, menos. De qualquer maneira, cinco diretrizes para o início do trabalho já foram estabelecidas:

1 – Sustentabilidade Ambiental, Social e relevância automotiva
2 – Combustível totalmente sustentável
3 – Criar um Trem de Força potente e emocionante
4 – Significativa redução de custos
5 – Trem de Força que seja atrativo para novas Montadoras

Resumindo, a F1 quer um motor que tenha apelo com os fãs (barulho), seja [muito] mais barato, tenha relevância automotiva mesmo não sendo elétrico e que atraia novas marcas para entrarem na F1. Não é exatamente uma fórmula simples.

Mas o que sabemos é que foi dada a largada para este novo momento da F1. Um novo motor que, para muitos, deve ser o último que utilizará combustão interna na história da categoria. Uma transição importante e que pode ser responsável por garantir ou destruir o futuro do campeonato.

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