Os melhores projetistas da história da F1 | 10+ Projeto Motor #3
Na F1, se os pilotos são os protagonistas da ópera, os projetistas são os compositores. Sob as costas destes engenheiros, a administração de um time confia a responsabilidade de definir a direção do desenvolvimento técnico de um carro e, consequentemente, planejar e visualizar uma temporada inteira.
Não obstante, já se tornou praxe – isso desde a época pré-F1 – inventar alcunhas como “feiticeiro” ou “visionário” para um projetista. Afinal de contas, em um ambiente em que cada time é obrigado a fabricar seu próprio carro, ganha quem achar a melhor solução para um determinado regulamento. Vale mesmo até enganar as regras para se obter um resultado positivo.
Nós, do comitê editorial do Projeto Motor, temos uma apreciação pelos projetistas. Gostamos da verve misteriosa em torno da personalidade deles e, mais importante, admiramos suas soluções engenhosas: das brutalmente radicais, como o “carro-ventilador” da Brabham de 1978, às mais sutis – o caso da adoção da fibra de carbono pela McLaren em seus projetos, no início dos anos 80.
Por isso, na terceira edição da já tradicional seção 10+, resolvemos listar os dez melhores projetistas da história da F1. O critério de corte? Inovação técnica, número de sucessos esportivos e legado. Claro, é um exercício de julgamento e você pode discordar. Sinta-se livre para opinar: o que nos interessa é a discussão.
Confira a lista:
10 – GÉRARD DUCAROUGE
Nascimento e morte: 23/10/1941 até 19/2/2015
Equipes: Matra, Ligier, Alfa Romeo, Lotus e Larrousse
Obra-prima: Matra MS80
Engenheiro aeronáutico, cresceu na carreira conforme a fabricante francesa Matra galgava espaço nas séries de base, até alcançar o pináculo, a F1, em 68. Uma vez lá, criou o MS80, chassi que refinou o uso de aerofólios e levou Jackie Stewart ao primeiro campeonato mundial, em 69. Depois, entre as décadas de 70 e 90, perdeu a mão em projetos de Ligier, Alfa Romeo, Lotus e Larrousse-Lola, mas jamais deixou de ser ser aclamado como um dos projetistas mais talentosos de sua geração.
9 – OWEN MADDOCK
Nascimento e morte: 24/1/1925 até 19/7/2000
Equipes: Cooper
Obra-prima: Cooper-Climax T53
Braço direito de John Cooper desde os tempos de oficina, projetou monopostos de F3, F2 e F1 para a escuderia. Inspirado nos Auto Union dos anos 30, conseguiu o que parecia impossível: criar um monoposto com motor central-traseiro longitudinal equilibrado o suficiente para alcançar a glória na F1. A bordo do T51 e do T53, Jack Brabham, Cooper e Maddock se tornaram bicampeões em 59 e 60. Mais do que isso, transformou para sempre a forma de se construir um carro na categoria.
8 – RUDOLF UHLENHAULT
Nascimento e morte: 15/7/1906 – 8/5/1989
Equipes: Mercedes
Obra-prima: Mercedes-Benz W196/W196S
Filho de pai alemão e mãe inglesa, virou funcionário da Mercedes nos anos 1930 e, lá, projetou os lendários 300SL “asa de gaivota”, vencedor em Le Mans em 1952, e W196, bólido ultra aerodinâmico e tecnológico para os padrões da época (com direito à variante “S”, de rodas cobertas, projetado para pistas de alta velocidade). Com ele, Juan Manuel Fangio fez o que quis na F1 em 54 e 55. O domínio só não foi mais longo porque a catástrofe vivida em Sarthe naquele último ano levou montadora a se afastar do automobilismo.
7 – PATRICK HEAD
Nascimento: 05/06/1946
Equipes: Williams
Obra-prima: Williams FW14
Em 1977, o inglês aceitou o desafio de se juntar a Frank Williams para fundar o que se tornaria uma das equipes mais vitoriosas da F1. Bastaram apenas quatro temporadas para eles conseguirem seu primeiro título, em 80, com Jones no modelo FW07, que Head produziu ao lado do projetista Neil Oatley. Ele logo se tornou diretor técnico, se afastando do design, mas supervisionando todos os passos dos projetos dos carros. E foi assim que comandou os nove títulos de construtores e sete de pilotos da equipe.
6 – MAURO FORGHIERI
Nascimento: 13/01/1935
Equipes: Ferrari e Lamborghini
Obra-prima: Ferrari 312T
Um dos grandes nomes da história da Ferrari, foi responsável por nada menos do que quatro mundiais de pilotos. Além do desenho dos carros, também trabalhava com os motores. Em 1964, no título de John Surtees, desenvolveu as 158 e 1512, o “Aero Chassi”, que usavam motores V8 e V12, respectivamente. Mais tarde, foi responsável pela série 312, que ganhou os campeonatos de 75 e 77 com Lauda e 79 com Scheckter. Deixou a Ferrari em 87 e foi projetar o motor Lamborghini, seu último trabalho na F1.
5 – JOHN BARNARD
Nascimento: 04/05/1946
Equipes: McLaren, Ferrari, Benetton e Arrows
Obra-prima: MP4/2
O inglês explodiu nos EUA com o Chaparral 2K, que levou a Indy em 80. Em 81, foi trabalhar na F1 pela McLaren, onde projetou seus carros mais famosos: o MP4/1, primeiro chassi de fibra de carbono da categoria, e a série MP4/2, que levou os títulos de 84 e 85. Se transferiu para a Ferrari em 87 e dois anos depois, na 640, introduziu o câmbio borboleta. Passou pela Benetton com vitórias entre 90 e 92, ao lado de Rory Byrne, e voltou para a Ferrari para uma passagem de pouco sucesso entre 93 e 96.
4 – GORDON MURRAY
Nascimento: 18/6/1946
Equipes: Brabham e McLaren
Obra-prima: McLaren-Honda MP4-4
Membro da Brabham desde 69, virando designer chefe em 72, Murray mostrou desde cedo uma postura inovadora. Entre seus destaques estão o BT46B, (o “fan car”), o BT49C e o BT52 – os dois últimos que renderam a Nelson Piquet seus primeiros títulos.
Em 86, criou o modelo que seria embrião de sua obra-prima. No BT55, introduziu o “carro-skate”, com um chassi de perfil baixo e muito eficiente em termos aerodinâmicos. Quando se mudou para a McLaren, aplicou o mesmo conceito no MP4-4, carro que venceu 15 de 16 corridas com Ayrton Senna e Alain Prost.
2 – ADRIAN NEWEY/RORY BYRNE
Newey:
Nascimento: 26/12/1958
Equipes: March/Leyton House, Williams, McLaren e Red Bull
Obra-prima: Red Bull RB7
Byrne:
Nascimento: 10/1/1944
Equipes: Toleman, Benetton e Ferrari
Obra-prima: Ferrari F2004
Esta edição do “10+” contou com um raro empate no segundo lugar. Justamente pelo fato de a avaliação contar com critérios subjetivos, o comitê editorial do site avaliou ser uma dura missão escolher entre Newey e Byrne.
Newey fez trabalhos brilhantes em três equipes diferentes, conquistando títulos com Williams, McLaren e Red Bull. Seus projetos seguem sempre uma mesma tendência, com carros excessivamente compactos, mas mesmo assim vários de seus trabalhos estabeleceram parâmetros de eficiência. Williams FW14B (1992), McLaren MP4-13 (1998) e Red Bull RB 9 (2013) são apenas alguns exemplos.
Byrne também brilhou em times distintos, desde a Toleman (com o interessante carro de Ayrton Senna em 1984) e nos títulos da Benetton. Mas foi na Ferrari que ele ajudou a estabelecer o mais acachapante reinado da história.
O projetista fazia trabalhos fortes em aerodinâmica, mecânica e confiabilidade. O domínio da Scuderia fez com que as regras da F1 fossem alteradas justamente para frear o poderio do time. Em vão: Byrne conseguia arrumar soluções para manter seus carros na ponta, integrando com maestria o chassi aos motores e pneus. Assim, conquistou seis títulos de construtores entre 1999 e 2004.
1 – COLIN CHAPMAN
Nascimento e morte: 19/5/1928 – 16/12/1982
Equipes: Vanwall e Lotus
Obra prima: Lotus 33
Nossa escolha para o nº 1 é quase óbvia. Inglês de Richmond, Colin Chapman foi o arquétipo do projetista ideal: um visionário numa contínua busca por ideias que lhe dessem mínima vantagem sobre a concorrência. Isso envolvia reciclar conceitos de outras áreas, como a aeronáutica, e encontrar uma aplicação adequada no esporte a motor.
Chassi monocoque, suspensão ativa e otimização do efeito solo são alguns dos preceitos que Chapman aplicou com êxito na F1. Ao todo, foram oito títulos de construtores – sete com a Lotus e um com a Vanwall –, seis de pilotos e uma 500 Milhas de Indianápolis, entre 1962 e 1978.
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