Pilotos campeões da F1 sem o campeonato de construtores
O campeonato de construtores foi inaugurado na F1 na temporada de 1958, nona da história da categoria. Ele premia a equipe que conquista mais pontos em uma temporada.
Na época do primeiro campeonato de construtores até o começo dos anos 80, existia na F1 a possibilidade de compra e venda de chassis. Neste caso, o time ficava fora da disputa, já que a competição era voltada apenas quem construía o próprio carro.
Pelo regulamento, isso significava deter os direitos intelectuais dos projetos e fabricar a estrutura principal, mesmo que algumas partes (motor, câmbio e outros) pudessem ser adquiridos.
Hoje, apesar de várias partes e peças serem padrão ou poderem ser comercializadas, cada time é obrigado a construir o seu próprio carro (ou pelo menos ter exclusividade no uso do projeto na categoria) para competir no Mundial.
E se o título de pilotos é provavelmente o que mais chama a atenção do público e até do próprio mundo da F1, o campeonato de construtores tem a sua importância também.
Para começar, ele define como parte das verbas da categoria serão distribuídas às equipes no ano seguinte. Além, é claro, de toda a visibilidade para patrocinadores pela conquista.
Por outro lado, ele também aponta limitações para a utilização de túnel de vento e recursos de CFD (que simula em computadores a aerodinâmica dos carros). Quem está mais à frente, pode usar menos.
Se olharmos na história, o caminho mais natural é que o campeão de pilotos seja da equipe campeã de construtores. Isso acontece porque quem ganha o campeonato de construtores normalmente é quem forneceu o melhor carro. Por consequência, os pilotos também se beneficiam disso.
Só que alguns pilotos conseguiram driblar essa situação. Cada um se aproveitando de diferentes cenários e situações. Alguns simplesmente superaram as limitações de seus carros. Outros, se aproveitaram da batalha interna de companheiros de um time adversário para concentrar pontos e superar ambos.
E tem ainda os casos de equipes que tinham ótimos carros, porém, um dos pilotos não estava à altura. O que resultou em apenas um deles marcar pontos (e ser campeão) e o outro não conseguir fazer sua parte para ajudar na briga pelo campeonato de construtores.
Vamos lembrar todos os casos:
1958
Campeão de Pilotos: Mike Hawthorn (Ferrari)
Campeão de construtores: Vanwall
Logo na primeira temporada do campeonato de construtores, já tivemos campeões diferentes nos pilotos e fabricantes. Já contamos aqui parte da história de 1958 pela ótica da Ferrari, que enfrentou duas tragédias com as mortes de Peter Collins e Luigi Musso durante o campeonato.
Na sétima das 11 etapas daquele campeonato, a última que Collins completou antes de sua morte e já uma depois do falecimento de Musso, a Ferrari liderava o campeonato com 11 pontos de vantagem.
Por motivos óbvios, essa margem sumiu nas últimas quatro corridas e a Vanwall levou a taça, graças também a ascensão de Stirling Moss, que perdeu o título de pilotos para Hawthorn por apenas um ponto. Tony Brooks, também do time britânico, ainda ficou em terceiro no campeonato.
1973
Campeão de Pilotos: Jackie Stewart (Tyrrell)
Campeão de construtores: Lotus
Jackie Stewart conquistou o seu tricampeonato mundial de forma arrebatadora. Ele terminou a temporada com 16 pontos de vantagem para o vice, Emerson Fittipaldi, em uma era em que o vencedor marcava apenas nove e o segundo, seis.
O escocês tinha como companheiro de equipe o francês François Cevert, que vinha em boa ascensão na carreira, porém, ainda longe do nível de Stewart. Assim, a Tyrrell trabalhou firme com seu piloto principal enquanto a Lotus viveu uma temporada mais problemática.
Cevert, que era considerado sucessor de Stewart para o futuro, morreu em um acidente na última etapa do ano, em Watkins Glen.
Na Lotus, Fittipaldi e seu companheiro, Ronnie Peterson, travavam duras brigas na pista. O rápido sueco venceu quatro corridas contra três do brasileiro, mas Fittipaldi era mais constante.
Por acreditar que tinha mais chances de vencer Stewart, o brasileiro, campeão pela Lotus na temporada anterior, cobrava prioridade da equipe, mas não foi atendido.
No final, com a derrota no campeonato, mas à frente de Peterson, Fittipaldi, sentindo-se desprestigiado, resolveu aceitar uma proposta da McLaren para a temporada seguinte, onde conquistaria seu segundo título mundial.
De qualquer maneira, pelo desempenho de seus dois pilotos juntos, a Lotus, mesmo perdendo o título de pilotos, foi campeã de construtores.
1976
Campeão de Pilotos: James Hunt (McLaren)
Campeão de construtores: Ferrari
A temporada de 1976 ganhou até mesmo um filme, Rush, que mostra de forma bastante romanceada e com diversos exageros a dura e dramática batalha pelo título.
James Hunt entrou na McLaren no lugar de Emerson Fittipaldi, que resolveu partir para a equipe Copersucar-Fittipaldi que o irmão, Wilson, tinha criado. Já a Ferrari tinha o atual campeão mundial, Niki Lauda.
Lauda dominou a primeira metade do campeonato, mas um forte acidente no GP da Alemanha que quase lhe tirou a vida, fez com que o austríaco perdesse duas provas.
Além disso, mesmo que ainda conquistando resultados importantes como um quarto lugar na Itália e um terceiro nos EUA, sua condição claramente ainda não era a ideal para competir. Hunt se aproveitou para virar o campeonato e sagrar-se campeão na etapa final.
Curiosamente, os companheiros de ambos, Clay Regazzoni de Lauda na Ferrari e Jochen Mass de Hunt na McLaren, fizeram temporadas muito apagadas. Ambos ficaram fora dos quatro primeiros da classificação geral.
Com o título decidido por apenas um ponto entre Hunt e Lauda, a atuação um pouco melhor de Regazzoni, que terminou em quinto no campeonato, valeu os construtores para a Ferrari.
1981
Campeão de Pilotos: Nelson Piquet (Brabham)
Campeão de construtores: Williams
Nelson Piquet já tinha batido na trave em 1980 em sua segunda temporada na F1 e em 81, mostrou que mesmo ainda jovem e menos experiente do que vários de seus rivais, era um piloto acima da média para vencer seu primeiro título.
A grande favorita era a Williams, que já tinha sobrado nos construtores de 80 e vencido o título de pilotos com Alan Jones. Só que dessa vez, o companheiro do australiano, Carlos Reutemann, mesmo com um contrato de piloto número dois do time, resolveu que também queria brigar pela taça.
Já contamos a história dessa dura briga interna que se tornou um dos principais fatores para a perda do título de 81, mesmo que a Williams tivesse um carro mais equilibrado do que da Brabham na maior parte da temporada.
Mas vale destacar também o belo trabalho de desenvolvimento do modelo Brabham BT49C feito por Piquet em parceria com o projetista Gordon Murray, que lhe deu a chance de conquistar o título.
A Brabham talvez teria mais chance de brigar pelo campeonato de construtores se o companheiro do brasileiro, Hector Rebaque, não estivesse tão abaixo do nível de atuação que era preciso.
O mexicano marcou apenas 11 pontos contra 50 do brasileiro em sua primeira e única temporada completa na F1. Por outro lado, ter apenas um piloto forte na disputa deu a chance para a Brabham focar seus recursos em um dos carros para brigar pela taça.
1982
Campeão de Pilotos: Keke Rosberg (Williams)
Campeão de construtores: Ferrari
A temporada de 1982 é daquelas que merece um conteúdo todo à parte por conta das diversas histórias, polêmicas e tragédias. Keke Rosberg se tornou naquele ano campeão mundial vencendo apenas uma corrida.
Apesar da divisão de forças bastante apertada, a Ferrari provavelmente era uma das grandes favoritas do ano, tanto que ficou com o campeonato de construtores, porém, perdeu seus dois titulares por conta de acidentes.
Primeiro, Gilles Villeneuve morreu em uma batida em Zolder e depois, Didier Pironi sofreu grave lesão nas pernas em outro acidente em Hockenheim. Mesmo fora das últimas cinco etapas do campeonato, o francês era líder até a três corridas do final do campeonato e terminou com o vice, a cinco pontos de Rosberg.
Mostrando como o carro da Ferrari era bom, os substitutos Patrick Tambay e Mario Andretti marcaram 29 pontos nas últimas sete etapas para levar o time de Maranello ao título de construtores.
1983
Campeão de Pilotos: Nelson Piquet (Brabham)
Campeão de construtores: Ferrari
Mais uma vez Piquet mostrou sua capacidade de trabalho com Murray e o restante dos técnicos da Brabham para surpreender os rivais com carros mais fortes.
Enquanto Ferrari e Renault tiveram que lidar com brigas internas, a Brabham repetiu a estratégia de investir todas suas fichas no brasileiro, que teve uma arrancada final muito forte para bater Alain Prost pelo título na corrida final por apenas dois pontos.
O companheiro do brasileiro, Riccardo Patrese, terminou apenas duas corridas na zona de pontuação, apesar de vencer a etapa final graças à estratégia da equipe para ajudar Piquet.
Além de perder o título de pilotos no final, a Renault ainda viu a constância maior da dupla da Ferrari levar o campeonato de construtores novamente para Maranello. A Brabham ficou apenas em terceiro, mesmo com o piloto campeão.
1986
Campeão de Pilotos: Alain Prost (McLaren)
Campeão de construtores: Williams
A temporada de 1986 é outra daquelas que entrou para a história da categoria como uma das mais especiais da história. A Williams tinha o melhor carro, mas uma dupla que entrou em uma guerra interna ferrenha até o final.
E diferente das outras vezes em que estava do outro lado deste problema, Piquet era justamente um dos representantes do time, precisando lidar com o faminto companheiro, Nigel Mansell.
Alain Prost, da McLaren, e Ayrton Senna, da Lotus, aproveitaram-se dessa luta interna da Williams e lutaram pelo título. O brasileiro, o mais inexperiente dos quatro e com o carro um pouco abaixo da disputa, acabou saindo da briga um pouco mais cedo, mas o francês seguiu firma até a etapa final, em Adelaide.
E em mais uma decisão incrível em corrida final, Prost se aproveitou de problemas nos pneus de Mansell e Piquet para conquistar o que parecia um improvável título contra os pilotos da Williams, campeã de construtores.
1994
Campeão de Pilotos: Michael Schumacher (Benetton)
Campeão de construtores: Williams
A temporada de 1994 ficou marcada por diversas tragédias e polêmicas. No meio de tudo isso, Michael Schumacher teve um desempenho impressionante para conquistar seu primeiro título mundial.
Enquanto a Williams tinha dificuldades para se ajustar ao novo regulamento da F1 e ainda lidar com a perda de sua principal estrela, Ayrton Senna, em acidente fatal em Imola, o alemão aproveitou para fazer uma primeira metade de temporada extremamente forte com seis vitórias e um segundo lugar nas primeiras sete etapas.
A Williams acabou se achando na segunda parte do campeonato e ainda aproveitou de uma suspensão de duas provas de Schumacher para se recuperar. No final, Damon Hill perdeu o título por apenas um ponto para o alemão na polêmica decisão de Adelaide em que foi acertado pelo rival.
A Williams (que teve David Coulthard e Nigel Mansell como substitutos de Senna), no entanto, conquistou o título do campeonato de construtores com 15 pontos de margem para a Benetton, que teve 91 de seus 103 pontos marcados apenas por Schumacher.
1999
Campeão de Pilotos: Mika Hakkinen (McLaren)
Campeão de construtores: Ferrari
Depois de perder para Williams em 97 e McLaren em 98, a Ferrari parecia finalmente ter um carro à altura do talento de Schumacher para conquistar o campeonato. Ele e Hakkinen brigavam ponto a ponto nas primeiras corridas, mas um intruso apareceria na história e ainda se aproveitaria de uma situação inesperada.
Na oitava etapa, exatamente metade da temporada, em Silverstone, Schumacher sofreu um acidente que lesionou suas pernas. Isso o tiraria das próximas seis corridas e da briga pelo Mundial. Desta forma, a Ferrari teria que fazer uma improvável aposta em Eddie Irvine, segundo piloto do time.
Só que curiosamente, o norte-irlandês já fazia uma das melhores temporadas de sua carreira e no momento do acidente de Schumacher, ele estava a apenas seis pontos do companheiro. E igualou a pontuação ainda naquela etapa, ficando a oito do líder Hakkinen.
Ninguém acreditava muito, mas ele logo mostrou que poderia liderar a Ferrari. Com duas vitórias nas corridas seguintes, ele assumiu a ponta do campeonato. Irvine e Hakkinen passaram a lutar arduamente pelo título.
Schumacher voltou nas duas corridas finais para curiosamente ser o segundo piloto e ajudar o companheiro (inclusive entregando a liderança em Sepang). Irvine chegou à última etapa na frente no campeonato, mas perdeu o título para o finlandês da McLaren por dois pontos.
De qualquer maneira, somando o desempenho de Irvine, Schumacher e Mika Salo, que substituiu o alemão durante o período de recuperação, contra o inconstante Coulthard no segundo carro da McLaren, a Ferrari levou o título do campeonato de construtores por quatro pontos.
2008
Campeão de Pilotos: Lewis Hamilton (McLaren)
Campeão de construtores: Ferrari
Lewis Hamilton estava apenas em sua segunda temporada na F1 e já partia para sua segunda briga por título. No ano anterior, perdeu a briga para Kimi Raikkonen, da Ferrari.
O britânico passou o ano lutando contra a dupla da Ferrari, formada pelo campeão Raikkonen e um surpreendente Felipe Massa, que em certo ponto do ano passou a ser seu principal adversário.
A luta se arrastou até a última curva da última corrida, em Interlagos, quando Hamilton conquistou seu primeiro título mundial por apenas um ponto contra o brasileiro.
Seu companheiro de equipe, Heikki Kovalainen, porém, ficou apenas em sétimo no campeonato e pouco contribuiu na campanha da McLaren. O resultado é que a Ferrari, com um carro mais constante no geral nas mãos de seus dois pilotos, levou o campeonato de construtores.
2021
Campeão de Pilotos: Max Verstappen (Red Bull)
Campeão de construtores: Mercedes
A temporada de 2021 foi cheia de nuances e com um dos finais mais polêmicos da história em que a própria FIA admitiu que a direção de prova cometeu erros na interpretação e execução do regulamento.
Max Verstappen pela primeira vez teve um carro para brigar pelo título e se aproveitou de vacilos importantes do conjunto formado por Lewis Hamilton e Mercedes, que vinham dominando a F1 nos anos anteriores.
Na corrida final, em meio a uma grande polêmica sobre o uso do safety car nas voltas finais, Verstappen teve a chance de parar para troca de pneus e fazer a ultrapassagem em Hamilton na última volta para conquistar seu primeiro título mundial.
Na disputa entre os segundos pilotos, Valtteri Bottas superou Sergio Pérez, o que valeu o título de construtores para a Mercedes.
2024
Campeão de Pilotos: Max Verstappen (Red Bull)
Campeão de construtores: McLaren
Após um início arrebatador da Red Bull nas primeiras etapas, a equipe se perdeu na metade da temporada. Os problemas foram vários: uma luta de poder interna protagonizada pelo chefe da equipe, Christian Horner, e a saída de diversos integrantes importantes, em especial, o projetista multicampeão, Adrian Newey.
Durante as primeiras oito corridas, Verstappen venceu com folga sete provas e abriu boa margem na liderança do campeonato. No mesmo período, seu companheiro, Pérez, também era constante na segundo colocação do campeonato, o que deixava a Red Bull tranquila na liderança dos construtores.
Só que o time austríaco passou a ver uma ascensão meteórica das rivais McLaren e Ferrari e uma queda forte de desempenho de seu carro. Além disso, Pérez também entrou em uma espiral de péssimo resultados.
Com quatro vitórias nas 15 corridas seguintes, Verstappen ainda conseguiu sustentar a vantagem que tinha aberto na fase inicial da temporada. Mas sem a ajuda de Pérez, a Red Bull foi deixada para trás entre os construtores.
O resultado é que o holandês conquistou seu quarto título em sequência, mas a equipe viu a disputa dos construtores ficar entre McLaren e Ferrari nas etapas finais. No final, os britânicos levaram o nono título da história da equipe.
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