Piquet conquistou o título de 1981, mas sua Brabham não levou o campeonato de construtores
(Reprodução/F1)

Pilotos campeões da F1 sem o campeonato de construtores

O campeonato de construtores foi inaugurado na F1 na temporada de 1958, nona da história da categoria. Ele premia a equipe que conquista mais pontos em uma temporada.

Na época do primeiro campeonato de construtores até o começo dos anos 80, existia na F1 a possibilidade de compra e venda de chassis. Neste caso, o time ficava fora da disputa, já que a competição era voltada apenas quem construía o próprio carro.

Pelo regulamento, isso significava deter os direitos intelectuais dos projetos e fabricar a estrutura principal, mesmo que algumas partes (motor, câmbio e outros) pudessem ser adquiridos.

Hoje, apesar de várias partes e peças serem padrão ou poderem ser comercializadas, cada time é obrigado a construir o seu próprio carro (ou pelo menos ter exclusividade no uso do projeto na categoria) para competir no Mundial.

E se o título de pilotos é provavelmente o que mais chama a atenção do público e até do próprio mundo da F1, o campeonato de construtores tem a sua importância também.

Para começar, ele define como parte das verbas da categoria serão distribuídas às equipes no ano seguinte. Além, é claro, de toda a visibilidade para patrocinadores pela conquista.

Por outro lado, ele também aponta limitações para a utilização de túnel de vento e recursos de CFD (que simula em computadores a aerodinâmica dos carros). Quem está mais à frente, pode usar menos.

Se olharmos na história, o caminho mais natural é que o campeão de pilotos seja da equipe campeã de construtores. Isso acontece porque quem ganha o campeonato de construtores normalmente é quem forneceu o melhor carro. Por consequência, os pilotos também se beneficiam disso.

Só que alguns pilotos conseguiram driblar essa situação. Cada um se aproveitando de diferentes cenários e situações. Alguns simplesmente superaram as limitações de seus carros. Outros, se aproveitaram da batalha interna de companheiros de um time adversário para concentrar pontos e superar ambos.

E tem ainda os casos de equipes que tinham ótimos carros, porém, um dos pilotos não estava à altura. O que resultou em apenas um deles marcar pontos (e ser campeão) e o outro não conseguir fazer sua parte para ajudar na briga pelo campeonato de construtores.

Vamos lembrar todos os casos:

1958

Campeão de Pilotos: Mike Hawthorn (Ferrari)
Campeão de construtores: Vanwall

Logo na primeira temporada do campeonato de construtores, já tivemos campeões diferentes nos pilotos e fabricantes. Já contamos aqui parte da história de 1958 pela ótica da Ferrari, que enfrentou duas tragédias com as mortes de Peter Collins e Luigi Musso durante o campeonato.

Na sétima das 11 etapas daquele campeonato, a última que Collins completou antes de sua morte e já uma depois do falecimento de Musso, a Ferrari liderava o campeonato com 11 pontos de vantagem.

Por motivos óbvios, essa margem sumiu nas últimas quatro corridas e a Vanwall levou a taça, graças também a ascensão de Stirling Moss, que perdeu o título de pilotos para Hawthorn por apenas um ponto. Tony Brooks, também do time britânico, ainda ficou em terceiro no campeonato.

1973

Campeão de Pilotos: Jackie Stewart (Tyrrell)
Campeão de construtores: Lotus

Jackie Stewart conquistou o seu tricampeonato mundial de forma arrebatadora. Ele terminou a temporada com 16 pontos de vantagem para o vice, Emerson Fittipaldi, em uma era em que o vencedor marcava apenas nove e o segundo, seis.

O escocês tinha como companheiro de equipe o francês François Cevert, que vinha em boa ascensão na carreira, porém, ainda longe do nível de Stewart. Assim, a Tyrrell trabalhou firme com seu piloto principal enquanto a Lotus viveu uma temporada mais problemática.

Cevert, que era considerado sucessor de Stewart para o futuro, morreu em um acidente na última etapa do ano, em Watkins Glen.

Na Lotus, Fittipaldi e seu companheiro, Ronnie Peterson, travavam duras brigas na pista. O rápido sueco venceu quatro corridas contra três do brasileiro, mas Fittipaldi era mais constante.

Por acreditar que tinha mais chances de vencer Stewart, o brasileiro, campeão pela Lotus na temporada anterior, cobrava prioridade da equipe, mas não foi atendido.

No final, com a derrota no campeonato, mas à frente de Peterson, Fittipaldi, sentindo-se desprestigiado, resolveu aceitar uma proposta da McLaren para a temporada seguinte, onde conquistaria seu segundo título mundial.

De qualquer maneira, pelo desempenho de seus dois pilotos juntos, a Lotus, mesmo perdendo o título de pilotos, foi campeã de construtores.

1976

Campeão de Pilotos: James Hunt (McLaren)
Campeão de construtores: Ferrari

A temporada de 1976 ganhou até mesmo um filme, Rush, que mostra de forma bastante romanceada e com diversos exageros a dura e dramática batalha pelo título.

James Hunt entrou na McLaren no lugar de Emerson Fittipaldi, que resolveu partir para a equipe Copersucar-Fittipaldi que o irmão, Wilson, tinha criado. Já a Ferrari tinha o atual campeão mundial, Niki Lauda.

Lauda dominou a primeira metade do campeonato, mas um forte acidente no GP da Alemanha que quase lhe tirou a vida, fez com que o austríaco perdesse duas provas.

Além disso, mesmo que ainda conquistando resultados importantes como um quarto lugar na Itália e um terceiro nos EUA, sua condição claramente ainda não era a ideal para competir. Hunt se aproveitou para virar o campeonato e sagrar-se campeão na etapa final.

James Hunt no decisivo GP do Japão de 1976
James Hunt no decisivo GP do Japão de 1976

Curiosamente, os companheiros de ambos, Clay Regazzoni de Lauda na Ferrari e Jochen Mass de Hunt na McLaren, fizeram temporadas muito apagadas. Ambos ficaram fora dos quatro primeiros da classificação geral.

Com o título decidido por apenas um ponto entre Hunt e Lauda, a atuação um pouco melhor de Regazzoni, que terminou em quinto no campeonato, valeu os construtores para a Ferrari.

1981

Campeão de Pilotos: Nelson Piquet (Brabham)
Campeão de construtores: Williams

Nelson Piquet já tinha batido na trave em 1980 em sua segunda temporada na F1 e em 81, mostrou que mesmo ainda jovem e menos experiente do que vários de seus rivais, era um piloto acima da média para vencer seu primeiro título.

A grande favorita era a Williams, que já tinha sobrado nos construtores de 80 e vencido o título de pilotos com Alan Jones. Só que dessa vez, o companheiro do australiano, Carlos Reutemann, mesmo com um contrato de piloto número dois do time, resolveu que também queria brigar pela taça.

Já contamos a história dessa dura briga interna que se tornou um dos principais fatores para a perda do título de 81, mesmo que a Williams tivesse um carro mais equilibrado do que da Brabham na maior parte da temporada.

Mas vale destacar também o belo trabalho de desenvolvimento do modelo Brabham BT49C feito por Piquet em parceria com o projetista Gordon Murray, que lhe deu a chance de conquistar o título.

A Brabham talvez teria mais chance de brigar pelo campeonato de construtores se o companheiro do brasileiro, Hector Rebaque, não estivesse tão abaixo do nível de atuação que era preciso.

O mexicano marcou apenas 11 pontos contra 50 do brasileiro em sua primeira e única temporada completa na F1. Por outro lado, ter apenas um piloto forte na disputa deu a chance para a Brabham focar seus recursos em um dos carros para brigar pela taça.

1982

Campeão de Pilotos: Keke Rosberg (Williams)
Campeão de construtores: Ferrari

A temporada de 1982 é daquelas que merece um conteúdo todo à parte por conta das diversas histórias, polêmicas e tragédias. Keke Rosberg se tornou naquele ano campeão mundial vencendo apenas uma corrida.

Apesar da divisão de forças bastante apertada, a Ferrari provavelmente era uma das grandes favoritas do ano, tanto que ficou com o campeonato de construtores, porém, perdeu seus dois titulares por conta de acidentes.

Primeiro, Gilles Villeneuve morreu em uma batida em Zolder e depois, Didier Pironi sofreu grave lesão nas pernas em outro acidente em Hockenheim. Mesmo fora das últimas cinco etapas do campeonato, o francês era líder até a três corridas do final do campeonato e terminou com o vice, a cinco pontos de Rosberg.

Mostrando como o carro da Ferrari era bom, os substitutos Patrick Tambay e Mario Andretti marcaram 29 pontos nas últimas sete etapas para levar o time de Maranello ao título de construtores.

1983

Campeão de Pilotos: Nelson Piquet (Brabham)
Campeão de construtores: Ferrari

Mais uma vez Piquet mostrou sua capacidade de trabalho com Murray e o restante dos técnicos da Brabham para surpreender os rivais com carros mais fortes.

Enquanto Ferrari e Renault tiveram que lidar com brigas internas, a Brabham repetiu a estratégia de investir todas suas fichas no brasileiro, que teve uma arrancada final muito forte para bater Alain Prost pelo título na corrida final por apenas dois pontos.

O companheiro do brasileiro, Riccardo Patrese, terminou apenas duas corridas na zona de pontuação, apesar de vencer a etapa final graças à estratégia da equipe para ajudar Piquet.

Além de perder o título de pilotos no final, a Renault ainda viu a constância maior da dupla da Ferrari levar o campeonato de construtores novamente para Maranello. A Brabham ficou apenas em terceiro, mesmo com o piloto campeão.

1986

Campeão de Pilotos: Alain Prost (McLaren)
Campeão de construtores: Williams

A temporada de 1986 é outra daquelas que entrou para a história da categoria como uma das mais especiais da história. A Williams tinha o melhor carro, mas uma dupla que entrou em uma guerra interna ferrenha até o final.

E diferente das outras vezes em que estava do outro lado deste problema, Piquet era justamente um dos representantes do time, precisando lidar com o faminto companheiro, Nigel Mansell.

Alain Prost, da McLaren, e Ayrton Senna, da Lotus, aproveitaram-se dessa luta interna da Williams e lutaram pelo título. O brasileiro, o mais inexperiente dos quatro e com o carro um pouco abaixo da disputa, acabou saindo da briga um pouco mais cedo, mas o francês seguiu firma até a etapa final, em Adelaide.

E em mais uma decisão incrível em corrida final, Prost se aproveitou de problemas nos pneus de Mansell e Piquet para conquistar o que parecia um improvável título contra os pilotos da Williams, campeã de construtores.

1994

Campeão de Pilotos: Michael Schumacher (Benetton)
Campeão de construtores: Williams

A temporada de 1994 ficou marcada por diversas tragédias e polêmicas. No meio de tudo isso, Michael Schumacher teve um desempenho impressionante para conquistar seu primeiro título mundial.

Enquanto a Williams tinha dificuldades para se ajustar ao novo regulamento da F1 e ainda lidar com a perda de sua principal estrela, Ayrton Senna, em acidente fatal em Imola, o alemão aproveitou para fazer uma primeira metade de temporada extremamente forte com seis vitórias e um segundo lugar nas primeiras sete etapas.

A Williams acabou se achando na segunda parte do campeonato e ainda aproveitou de uma suspensão de duas provas de Schumacher para se recuperar. No final, Damon Hill perdeu o título por apenas um ponto para o alemão na polêmica decisão de Adelaide em que foi acertado pelo rival.

A Williams (que teve David Coulthard e Nigel Mansell como substitutos de Senna), no entanto, conquistou o título do campeonato de construtores com 15 pontos de margem para a Benetton, que teve 91 de seus 103 pontos marcados apenas por Schumacher.

1999

Campeão de Pilotos: Mika Hakkinen (McLaren)
Campeão de construtores: Ferrari

Como já contamos aqui no Projeto Motor, a temporada de 1999 foi uma das mais malucas da história da F1.

Depois de perder para Williams em 97 e McLaren em 98, a Ferrari parecia finalmente ter um carro à altura do talento de Schumacher para conquistar o campeonato. Ele e Hakkinen brigavam ponto a ponto nas primeiras corridas, mas um intruso apareceria na história e ainda se aproveitaria de uma situação inesperada.

Na oitava etapa, exatamente metade da temporada, em Silverstone, Schumacher sofreu um acidente que lesionou suas pernas. Isso o tiraria das próximas seis corridas e da briga pelo Mundial. Desta forma, a Ferrari teria que fazer uma improvável aposta em Eddie Irvine, segundo piloto do time.

Só que curiosamente, o norte-irlandês já fazia uma das melhores temporadas de sua carreira e no momento do acidente de Schumacher, ele estava a apenas seis pontos do companheiro. E igualou a pontuação ainda naquela etapa, ficando a oito do líder Hakkinen.

Ninguém acreditava muito, mas ele logo mostrou que poderia liderar a Ferrari. Com duas vitórias nas corridas seguintes, ele assumiu a ponta do campeonato. Irvine e Hakkinen passaram a lutar arduamente pelo título.

Schumacher voltou nas duas corridas finais para curiosamente ser o segundo piloto e ajudar o companheiro (inclusive entregando a liderança em Sepang). Irvine chegou à última etapa na frente no campeonato, mas perdeu o título para o finlandês da McLaren por dois pontos.

De qualquer maneira, somando o desempenho de Irvine, Schumacher e Mika Salo, que substituiu o alemão durante o período de recuperação, contra o inconstante Coulthard no segundo carro da McLaren, a Ferrari levou o título do campeonato de construtores por quatro pontos.

2008

Campeão de Pilotos: Lewis Hamilton (McLaren)
Campeão de construtores: Ferrari

Lewis Hamilton estava apenas em sua segunda temporada na F1 e já partia para sua segunda briga por título. No ano anterior, perdeu a briga para Kimi Raikkonen, da Ferrari.

O britânico passou o ano lutando contra a dupla da Ferrari, formada pelo campeão Raikkonen e um surpreendente Felipe Massa, que em certo ponto do ano passou a ser seu principal adversário.

A luta se arrastou até a última curva da última corrida, em Interlagos, quando Hamilton conquistou seu primeiro título mundial por apenas um ponto contra o brasileiro.

Seu companheiro de equipe, Heikki Kovalainen, porém, ficou apenas em sétimo no campeonato e pouco contribuiu na campanha da McLaren. O resultado é que a Ferrari, com um carro mais constante no geral nas mãos de seus dois pilotos, levou o campeonato de construtores.

2021

Campeão de Pilotos: Max Verstappen (Red Bull)
Campeão de construtores: Mercedes

A temporada de 2021 foi cheia de nuances e com um dos finais mais polêmicos da história em que a própria FIA admitiu que a direção de prova cometeu erros na interpretação e execução do regulamento.

Max Verstappen pela primeira vez teve um carro para brigar pelo título e se aproveitou de vacilos importantes do conjunto formado por Lewis Hamilton e Mercedes, que vinham dominando a F1 nos anos anteriores.

Na corrida final, em meio a uma grande polêmica sobre o uso do safety car nas voltas finais, Verstappen teve a chance de parar para troca de pneus e fazer a ultrapassagem em Hamilton na última volta para conquistar seu primeiro título mundial.

Na disputa entre os segundos pilotos, Valtteri Bottas superou Sergio Pérez, o que valeu o título de construtores para a Mercedes.  

2024

Campeão de Pilotos: Max Verstappen (Red Bull)
Campeão de construtores: McLaren

Após um início arrebatador da Red Bull nas primeiras etapas, a equipe se perdeu na metade da temporada. Os problemas foram vários: uma luta de poder interna protagonizada pelo chefe da equipe, Christian Horner, e a saída de diversos integrantes importantes, em especial, o projetista multicampeão, Adrian Newey.

Durante as primeiras oito corridas, Verstappen venceu com folga sete provas e abriu boa margem na liderança do campeonato. No mesmo período, seu companheiro, Pérez, também era constante na segundo colocação do campeonato, o que deixava a Red Bull tranquila na liderança dos construtores.

Só que o time austríaco passou a ver uma ascensão meteórica das rivais McLaren e Ferrari e uma queda forte de desempenho de seu carro. Além disso, Pérez também entrou em uma espiral de péssimo resultados.

Com quatro vitórias nas 15 corridas seguintes, Verstappen ainda conseguiu sustentar a vantagem que tinha aberto na fase inicial da temporada. Mas sem a ajuda de Pérez, a Red Bull foi deixada para trás entre os construtores.

O resultado é que o holandês conquistou seu quarto título em sequência, mas a equipe viu a disputa dos construtores ficar entre McLaren e Ferrari nas etapas finais. No final, os britânicos levaram o nono título da história da equipe.

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