(Foto: Dan Istitene / Red Bull Content)

Quando a F1 deve usar o safety car, sc virtual ou bandeira vermelha

Não é de hoje que questionamentos sobre algumas decisões da direção de prova da F1 causam algum tipo de polêmica. Especialmente quando elas possuem uma influência direta no andamento da corrida.

Um tipo de situação que temos visto nos últimos tempos é a questão de quando o diretor de prova deve utilizar o safety car, o safety car virtual ou a bandeira vermelha. São três artifícios para situações muito parecidas, porém, que possuem consequências bem diferentes.

E ao contrário por exemplo do julgamento sobre a responsabilidade de um acidente ou descumprimento de alguma regra esportiva, que é feito pelos comissários de prova apontados pela FIA, a escolha de qual desses três dispositivos deve ser empregado naquele momento é exclusivamente do diretor de prova.

O GP de Abu Dhabi de 2021, que decidiu o título daquela temporada, foi um desses casos. Mais recentemente, tivemos o GP da Austrália de 2023, com duas bandeiras vermelhas nas últimas três voltas, o que causou um grande rebuliço e reclamações de dirigentes das equipes e pilotos da F1.

Muitos deles acreditavam que na bandeira vermelha a três voltas do final [a segunda da prova], após um acidente de Kevin Magnussen que deixou um pneu e alguns detritos no traçado, era desnecessária. O argumento principal é que apenas um safety car resolveria o problema.

Porém, apenas a entrada do carro de segurança naquela altura fatalmente faria com que a corrida terminasse sob bandeira amarela, o que para muitos poderia ser visto como uma anticlímax, como aconteceu no GP da Itália de 2022.

Só que juntar os carros para uma nova largada parada, que é o caso da interrupção da bandeira vermelha, causou uma situação em que os pilotos partiram para um pequeno tudo ou nada a duas voltas do final. E isso com todos juntos, como se fosse o início da corrida. O resultado foi uma série de toques e acidentes logo na primeira curva após a relargada.

Assim, o final da prova foi atrás do safety car de qualquer jeito depois ainda de um período de dúvidas sobre qual era a classificação da corrida na nova bandeira vermelha sem que os carros completassem sequer uma volta após a relargada.

Vencedor da prova, Max Verstappen foi um dos mais vocais sobre o assunto nas entrevistas pós- corrida. “Não entendo porque precisávamos da bandeira vermelha. Acho que se tivéssemos o safety car e então uma largada em movimento normal, não teríamos todos aqueles problemas. E teríamos um final de prova normal. Então, eles [direção de prova] criaram o problema”, disse o bicampeão.

Fernando Alonso, que foi um dos envolvidos no acidente depois da bandeira vermelha e chegou a fazer uma reclamação dura pelo rádio, também questionou a decisão da direção de prova nas coletivas da F1 pós-GP. Porém, ele admitiu que precisava de mais informações para julgar se a opção foi a mais acertada.

“Vamos provavelmente perguntar em Baku [próxima etapa da F1] qual foi o motivo para a segunda [bandeira vermelha, no acidente de Magnussen]. Eu sei que tinha um pedaço de pneu na reta. Mas o carro mesmo estava na parte interna da curva 4 [fora do traçado] e parecia seguro ali. O safety car serve para este tipo de situação”, afirmou.

O que diz o regulamento da F1

O regulamento da F1 coloca o safety car, safety car virtual e bandeira vermelha em uma escada de necessidade dependendo do grau do problema.

A dica principal que a regra concede ao diretor de provas para ter uma base de interpretação de cada situação é sobre a questão de existir ou não fiscais na pista ou próximos dela, ou o quanto o traçado foi bloqueado por um carro batido e detritos deixados pelo acidente.

Mas o diretor de prova também deve levar em conta o tipo de circuito, o tamanho da área de escape no local do problema e se será necessária entrada, mesmo que por fora do traçado, de algum veículo de serviço, como um trator ou guindaste.

Em situações mais leves, teoricamente, a opção deve ser a do safety car virtual. “Será normalmente utilizado quando forem necessárias bandeiras amarelas duplas em qualquer setor da pista e os competidores ou fiscais podem estar em perigo, mas as circunstâncias não exigem suspensão da sessão sprint o corrida’, aponta o texto do regulamento.

As bandeiras amarelas duplas são utilizadas quando uma atenção maior dos pilotos é preciso para algo (carro, pedaços de carro, objeto estranho ou fiscal) que pode estar próximo da pista ou na área de escape. Assim, a ideia é que o safety car virtual sirva para apenas fazer os pilotos diminuírem a velocidade de seus carros ao mesmo tempo que os alerte que alguma operação de limpeza está sendo feita.

A neutralização da prova com o safety car é a segunda opção do diretor de prova. Neste caso, o carro de segurança físico entra na pista, obrigando que os pilotos andem em fila atrás dele. A principal característica para este tipo de chamada é o fato dos fiscais, detritos ou carro acidentado estarem no traçado.

“Será usado apenas se competidores ou fiscais estarem imediatamente em perigo físico ou próximos da pista, mas em circustâncias em que não é necessário suspender a sessão sprint ou a corrida”, explica o regulamento esportivo da F1.  

E finalmente, a última opção para o diretor de prova é a total paralisação da prova com a bandeira vermelha. Esse artifício é bem mais antigo do que os outros na F1, porém, evoluiu bastante com o tempo.

A sua principal característica, segundo a FIA, é o fato da pista estar de alguma forma bloqueada ou que os fiscais possam ficar em situação de perigo para conseguirem realizar sua limpeza. Um exemplo é a necessidade deles precisarem ficar por mais tempo dentro do traçado ou o trabalho de tirarem pedaços maiores ou até mesmo um carro inteiro do trajeto.

Além disso, uma chuva muito intensa também é considerada uma forma de aumento do perigo aos pilotos. Por isso, nestes casos, a bandeira vermelha também é utilizada para interromper uma corrida ou qualquer outra sessão como treinos livres e classificação.

“Se os competidores ou fiscais estão em perigo físico imediato pelos carros andando na pista, e o diretor de prova julgar que as circunstâncias não permitem que a pista seja utilizada de forma segura, mesmo que atrás do safety car, a sessão sprint ou corrida deverão ser suspensas”, descreve o livrro de regras.

Repare que a situação descrita pelo regulamento dá a impressão que a bandeira vermelha deve ser colocada em prática em ocasiões bastante particulares e graves. Porém, como cada pista e cenário têm suas características particulares, é quase impossível fugir da interpretação.

As consequências de cada opção

Se o momento que cada uma das alternativas que o diretor de provas tem para implantar em um caso de acidente é interpretativo, as consequências não são e possuem pesos bastante distintos no andamento da corrida.

No caso do safety car virtual, os pilotos seguem andando na pista normalmente, mas em uma velocidade reduzida que é indicada no visor que fica no volante dos carros. As ultrapassagens também ficam proibidas. O sistema da FIA calcula uma velocidade média que cada piloto deve respeitar.

O programa vai mostrar ao competidor se ele está dentro de um certo delta de tempo e assim ele aumenta ou diminui sua velocidade, dependendo da indicação. A ideia é que os carros também não andem devagar demais e que a corrida seja minimamente impactada, incluindo posições de pista e até as diferenças entre os carros.

Assim, quando a pista estiver liberada, os pilotos irão receber primeiro uma mensagem de “SCV terminando” e uma contagem de 10 segundos até que o painel fique verde e os competidores possam voltar a acelerar de maneira livre.

Já o safety car, a corrida sofre um impacto maior, pois todos os pilotos devem andar de forma alinhada atrás do carro de segurança. Ultrapassagens não são permitidas, porém, a diferença entre os competidores é eliminada.

Quando a pista estiver liberada, um procedimento padrão (que ficou ainda mais rígido após os acontecimentos do GP de Abu Dhabi de 2021) é seguido. O carro de segurança sinaliza que vai entrar nos boxes apagando suas luzes e o piloto que lidera o pelotão passa a ter o comando do ritmo até a linha de safety car, na reta de largada.  

A relargada é em movimento e a partir do momento em que os carros passarem pela linha de safety car, os pilotos estão liberados para ultrapassar e andarem no ritmo que quiserem.

É importante destacar que tanto durante o safety car virtual quanto no safety car, os pilotos podem entrar no pit para trocas de pneus, o que abre possibilidades e implicações na estratégia de corrida. Além disso, durante o tempo de utilização de ambos, as voltas da corrida seguem sendo contadas normalmente.

No acionamento da bandeira vermelha, as ultrapassagens estão automaticamente proibidas e os pilotos devem diminuir a velocidade e seguirem para o pit. Os carros devem ser estacionados em linha a partir da saíta do pit lane. O trabalho dos modelos, o que inclui reparos e troca de pneus, é liberado.

 A bandeira vermelha interrompe a corrida de F1 por conta de algum perigo mais grave na chuva, como detritos ou chuva
A bandeira vermelha interrompe a corrida de F1 por conta de algum perigo mais grave na chuva, como detritos ou chuva (Foto: Florent Gooden / DPPI / Sauber)

Pilotos aguardam até a direção de prova sinalizar que a pista está liberada. Assim, eles voltam atrás do safety car para uma volta de formação e seguem até o grid para uma largada parada, seguindo as posições de momento e o procedimento de começo de prova.

Por conta não só dos diferentes usos, mas por suas diferentes consequências no andamento da corrida, muito tem se discutido nos últimos anos sobre os três dispositivos. Existe, por exemplo, uma corrente que defende que mesmo que não seja o caso técnico, a bandeira vermelha deve ser acionado em situações em que uma relargada não seja possível com os carros andando atrás do safety car e seguindo com a contagem das voltas.

Este caso parece se enquadrar, por exemplo, no GP da Austrália de 2023, já que com apenas três voltas para o término da prova, dificilmente os fiscais conseguiriam limpar e liberar a pista dentro do tempo necessário com os carros andando atrás do carro de segurança.

O que muitos dirigentes e pilotos pediram após a corrida em Melbourne, no entanto, é uma melhor definição desses procedimentos para que cada caso fique mais previsível. É que comentou Toto Wolff, chefe da Mercedes.

“Acho que as relargadas paradas são um fator ótimo para o entretenimento. Apenas precisamos entender quando as bandeiras vermelhas serão utilizadas, e o que é um safety car ou safety car virtual. Acho que naqueles incidentes [do GP da Austrália] poderiam ser aplicados qualquer um deles. Estou satisfeito se você chama o safety car virtual, safety car ou bandeira vermelha, desde que a gente entenda os termos e possamos nos planejar um pouco. Vamos definir juntos o que é o safety car virtual, safety car e a bandeira vermelha”, apontou.

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