(Foto: Dan Istitene/Getty Images/ Red Bull Content)

Espanha já recebeu F1 em seis pistas diferentes. Relembre os circuitos

O GP da Espanha é um dos mais tradicionais da F1. A primeira edição da prova dentro do Mundial aconteceu em 1951, na segunda edição do campeonato. Depois disso, nos 73 anos de história da categoria, a etapa foi realizada mais 52 vezes e segue com contrato para os próximos anos.

Neste interim, várias pistas já receberam o evento. Contando com o circuito de rua de Valência, que sediou apenas GPs da Europa, a F1 já visitou seis circuitos diferentes na Espanha. É um número menor apenas do que Estados Unidos, o campeão neste quesito com 12, e França, com sete.

A atual sede do GP da Espanha é o Circuito de Barcelona-Catalunha, localizado na cidade de Montmeló, a menos de 30 km de Barcelona. A pista já se tornou a casa mais tradicional da prova, com 33 corridas realizadas (contando com a de 2023). Para se ter ideia, a segunda colocada é Jarama, com nove provas.

A pista foi construída em 1991 e recebeu sua primeira corrida de F1 no mesmo, tomando o GP da Espanha de Jerez. Na época, era considerado um dos circuitos mais modernos do mundo, com áreas de escape maiores do que a média, asfalto liso e traçado com boa variação de tipos de curvas e uma longa reta.

Com a evolução dos carros, porém, passou a ser criticado pela falta de ultrapassagens e emoções em suas provas. O Circuito passou por várias pequenas modificações em seu traçado durante o tempo, mas a questão nunca foi exatamente resolvida.

Suas características bastante técnicas combinadas com o fato de a Catalunha ter um inverno menos rigoroso do que a maior parte do resto da Europa, fez com que o Circuito de Barcelona acabasse com o tempo sendo o mais escolhido das últimas décadas para testes e pré-temporadas das equipes.

Nestas mais de três décadas de GP da Espanha em Barcelona, outros dois circuitos espanhóis (Jerez e Valência) chegaram a receber a F1 como o GP da Europa, e até a cogitaram tentar tirar a prova nacional da Catalunha.

A própria organização local chegou a ter seus financeiros para fechar as contas e enfrentou negociações bastante difíceis com a F1, com renovações de última hora ou por apenas mais uma temporada acontecendo com certa frequência. O atual contrato, porém, foi acordado em 2021 e termina apenas 2026.

Pedralbes: a primeira casa da F1 na Espanha

A história da F1 na Espanha também começou em Barcelona. Mas em um circuito de rua dentro da cidade, no bairro de Pedralbes. Apesar de urbano, o traçado de 6.333 metros era bastante largo, com 6 curvas e uma grande reta. A pista já tinha sido utilizada durante a década de 40 para outras provas e entrou para o calendário do Mundial em 1951.

Duas corridas da F1 aconteceram no local:  a primeira vencida por Juan Manuel Fangio, de Alfa Romeo, e a segunda, em 54, por Mike Hawthorn, de Ferrari. Em geral, pilotos e fãs de automobilismo gostavam do circuito.

Só que após o acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1955, em que o piloto Pierre Levegh e 83 espectadores morreram em um acidente em que o carro do francês voou na arquibancada, os níveis de exigência de segurança subiram consideravelmente na Europa.

Pedralbes, um circuito de rua de altas velocidades e freadas fortes, com pouca estrutura de proteção do público, não passou na nova barra do automobilismo internacional e deixou de receber não só a F1 como qualquer outra corrida.

Montjuich: velocidade e perigo

Durante os anos 60, a Espanha resolveu retornar a receber grandes eventos internacionais de automobilismo e fez um investimento pesado para fazer isso acontecer. O Clube Real do Automóvel patrocinou a construção do novo circuito de Jarama, próximo a Madri, enquanto o próprio governo espanhol ajudou a remodelar o traçado de rua de Montjuich, em Barcelona.

O projeto deu certo e a Espanha conseguiu retornar ao calendário do Mundial no final da década, com um revezamento entre Madri e Barcelona como sedes do GP da Espanha.

O circuito de Montjuich existia desde a década e 30 e era utilizado principalmente para provas de motovelocidade. A pista era um traçado de rua construído dentro do parque de Montjuich, em Barcelona, uma área de muita natureza em montanhas próximas ao centro da cidade.

Como utilizava vias dentro de um parque, o traçado mal parecia urbano, com pontos de muita velocidade, tanto de retas como de curvas de raio longo. Essa característica, porém, também o deixava bastante perigoso.

Para a década de 60, o circuito passou por uma restauração em que além do recapeamento, foram instalados equipamentos de segurança que estavam surgindo na época, como novos tipos de guardrails e melhor limitação da pista e proteção dos espectadores. E assim, Barcelona conseguiu o acordo para entrar no calendário do Mundial em 1969.

Mesmo assim, por suas características de traçado veloz, nenhuma área de escape, e relevo que deixava vários de seus pontos cegos e mais desafiadores, o circuito sempre foi visto como um dos mais perigosos em que a F1 corria.

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A categoria realizou quatro provas na pista, sendo que a última, em 1975, contou com uma enorme insatisfação por parte dos pilotos sobre as condições de segurança. Logo na sexta-feira, os corredores se irritaram com a forma como os guardrails tinham sido instalados. Além de não estarem devidamente fixados, as barreiras metálicas ainda não estavam posicionadas juntas, com espaços entre elas, o que deixava diversos pontos perigosos.

A maior parte dos pilotos se recusou a participar dos treinos livres de sexta-feira e a organização colocou homens para trabalhar durante a noite para ajustar as barreiras para o restante do final de semana. Até mesmo mecânicos e outros membros das equipes foram requisitados e ajudaram no serviço para tudo ficar pronto a tempo. 

Só que no sábado pela manhã, os pilotos ainda não ficaram satisfeitos com os ajustes e novamente se negaram a competir. Entre os líderes do movimento estava o brasileiro Emerson Fittipaldi. A organização do GP então ameaçou processar pilotos e equipes, além de pedir para a justiça espanhola apreender o equipamento dos times nos boxes. Com medo, as escuderias pediram para os competidores entrarem na pista, o que eles acabaram fazendo.

Fittipaldi completou três voltas durante a classificação, de forma bem lenta, apenas para não ser considerado como “não entrante” e evitar assim uma retaliação jurídica a ele ou à McLaren. No dia seguinte, ele voltou ao Brasil e não participou da prova.

A corrida teve vários acidentes logo em suas primeiras voltas, mas a previsível tragédia aconteceu na 26ª passagem. A Embassy de Rolf Stommelen perdeu a asa traseira e foi direto para as barreiras. O carro bateu, voltou para a pista, e ao acertar o guardrail do outro lado do traçado, decolou, caindo atrás das barreiras.

Quatro pessoas que estavam ao lado do local acabaram morrendo: o bombeiro Joaquín Benaches Morera, o espectador Andrés Ruiz Villanova e os fotojornalistas Mario de Roia e Antonio Font Bayarri. Stommelen sofreu fraturas na perna, pulso e em duas costelas, mas sobreviveu.

Incrivelmente, a corrida seguiu por mais quatro voltas até a direção resolver terminar a prova. E a F1 nunca mais voltou a Montjuich.

Jarama: o primeiro circuito a criar uma tradição

Jarama foi inaugurado em 1967 e recebeu logo em seus primeiros meses de funcionamento uma prova não válida pelo campeonato vencida por Jim Clark. No ano seguinte, a pista sediou o GP da Espanha dentro do Mundial.

O traçado de 3.850 metros tem uma pequena reta e 16 curvas, com trechos bastante sinuosos. Por ser bastante estreito e com nenhuma grande reta, o circuito sempre propiciou poucas chances de ultrapassagens.

A pista, de qualquer maneira, seguiu no calendário até 1981, chegando a receber cinco GPs consecutivos após o fim do revezamento com Montjuich em 1976. No total, foram nove GPs no local em um período de 13 anos.

A F1, no entanto, resolveu abandonar a pista por uma série de fatores. Os próprios organizadores locais pareciam estar perdendo interesse no evento. Um dos problemas era que o público caía a cada ano no circuito, talvez por falta de um grande nome espanhol no grid.

Além disso, pilotos e a F1 sentiam que o circuito, que sempre foi estreito e sinuoso, estava ficando inadequado para os carros mais modernos da década de 80. E o calor na região de Madri durante o mês de junho, quando a etapa acontecia, também era considerado um problema.

Jerez recupera a tradição da Espanha na F1

Após o fim das provas em Jarama, a F1 ficou cinco anos sem correr na Espanha até o retorno em 1986 no novo circuito construído em Jerez, na festiva e turística região da Andaluzia, a 90 km de Sevilha.

Construído pela própria prefeitura de Jerez para impulsionar o turismo local, o circuito ficou pronto em dezembro de 1985, quatro meses antes do GP da Espanha, marcado para abril de 86. E para os padrões da época, Jerez era considerado um circuito relativamente moderno, com boas instalações internas.

O traçado de 4.428 metros e 15 curvas (a maioria de média ou baixa) era relativamente sinuoso e com poucos pontos de ultrapassagem. Os mais importantes eram ao final das duas retas principais do circuito.

Logo em seu primeiro evento, Jerez foi palco para uma das chegadas mais incríveis da história da F1, com Ayrton Senna, de Lotus, vencendo Nigel Mansell, de Williams, por apenas 14 milésimos, a terceira mais próxima da história da F1.

Só que na virada da década, muitos problemas fizeram o Mundial deixar Jerez. Para começar, o chocante acidente de Martin Donnelly na prova de 1990, do qual o Projeto Motor já contou detalhes, levantou dúvidas sobre a segurança da pista.

A questão comercial, no entanto, foi a que mais pegou. Jerez ficava em uma localização remota de grandes centros, o que dificultava a atração de maiores públicos para a pista. Com o grande investimento em um novo circuito na Catalunha, perto de Barcelona, Jerez não conseguiu disputar com uma cidade mais conhecida internacionalmente e com uma estrutura ainda mais moderna.

O GP da Espanha, então, passou a ser realizado em Barcelona a partir de 1991. Porém, Jerez seguiu trabalhando para retomar um espaço no calendário. E até conseguiu em duas oportundiades, em 1994 e 1997, como GP da Europa. Na segunda delas, inclusive, sediou a famosa decisão do Mundial em que Jacques Villeneuve venceu Michael Schumacher, após o alemão tentar provocar um acidente entre os dois.

Depois, a pista ainda foi utilizada diversas vezes entre 1999 e 2015 para testes e pré-temporada das equipes, mas acabou focando suas atividades em campeonatos de motovelocidade ou fórmulas melhores.

A tentativa de Valência de se tornar a Mônaco espanhola

Em uma jogada para tentar impulsionar o turismo local, a cidade de Valência apostou em receber a F1 a partir de 2008. Apesar da cidade possuir um autódromo, o Circuito Ricardo Tormo, projetado principalmente para motos, era considerado inadequado para a F1.

Além disso, ele não tinha alguns atributos em linha com o principal objetivo da cidade. Situada em uma área afastada da região mais turística, na cidade de Cheste, não cumpria a ideia de Valência de mostrar sua beleza ao mundo e ainda revigorar a área de seu porto.

Assim, a cidade investiu pesado na construção de um circuito de rua na região, erguendo infraestrutura que poderia ser utilizada também para outros eventos, como a America’s Cup, uma das mais famosas e prestigiadas competições de iatismo do mundo. O contrato fechado com Bernie Ecclestone foi para sediar o novo GP da Europa, o que mantinha Barcelona como casa do GP da Espanha.

Valencia sediou o GP da Europa por cinco anos se tornando um dos seis circuitos que receberam a F1 na Espanha  (Foto: Paul Gilham/Getty Images/Red Bull Content)
Valencia sediou o GP da Europa por cinco anos se tornando um dos seis circuitos que receberam a F1 na Espanha (Foto: Paul Gilham/Getty Images/Red Bull Content)

O traçado projetado pelo arquiteto alemão Hermann Tilke tinha 5.419 metros e 25 curvas, passando inclusive por uma pequena ponte. O circuito tinha um ponto de alta velocidade, em que os carros alcançavam cerca de 320 km/h.

O visual próximo ao mar e à praia era impressionante especialmente na televisão, além de propiciar muitos eventos paralelos de patrocinadores, porém, o circuito era muito criticado por pilotos e fãs pela falta de pontos de ultrapassagem.

Para 2013, a F1 e promotores locais chegaram à conclusão que não era possível manter duas provas na Espanha no calendário. Assim, cogitou-se um revezamento entre Barcelona e Valência como GP da Espanha, mas a segunda acabou sendo abandonada por problemas financeiros da organização local, o que inclusive terminou em um processo de corruptação pela organização do evento.

Depois de tantos problemas, discussão e questionamentos sobre o custo-benefício do investimento,o circuito e todo projeto de revitalização da região do porto de Valência foram abandonados.

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