(Reprodução/Lola)

Cheia de história, a Lola está voltando às pistas após 10 anos

Uma das principais construtoras de carros de corrida da história, a Lola está passando por um processo que deve significar seu retorno às pistas em período de dois anos. A montadora está fechada desde 2012 e foi comprada em junho pelo empresário Till Bechtolsheimer.

O negócio inclui não só a marca Lola, mas também o Centro de Desenvolvimento Técnico, onde fica a fábrica, túnel de vento e restante da estrutura e equipamentos, e os direitos intelectuais sobre os mais de 400 projetos já realizados pela construtora inglesa.

Desta forma, o britânico pretende iniciar a terceira fase da existência da Lola. Em 1958, ela foi fundada pelo engenheiro Eric Broadley, principal nome da história da empresa e responsável pelos principais projetos. Enterrado em problemas financeiros principalmente após uma tentativa fracassada de entrar na F1 com uma equipe oficial, o inglês vendeu em 1998 a companhia para o empresário e ex-piloto Martin Birrane.

O irlandês comandou a Lola até 2012 e também chegou a iniciar um projeto para entrar na F1, mas foi preterido na concorrência pelas três vagas extras para a temporada de 2010 realizada pela FIA. Assim, em 2012, ele resolveu fechar a operação principal de projetos de corrida da Lola.

Apesar de deixar de ser construtora de chassis, a empresa seguiu alugando o seu túnel de vento além de fazer algumas consultorias técnicas para terceiros usando uma subsidiária de nome Wind Tunnel Developments, no Centro Técnico da Lola na cidade de Huntingdon, no interior da Inglaterra. Entre os clientes, estão a fabricante de caminhões Scania e a de aviões Airbus.

Neste meio tempo, Birrane tentou vender a empresa. Muitos dos equipamentos foram adquiridos pela canadense Multimatic, uma das atuais fornecedoras de chassis da classe LMP2 homologadas pela FIA.

Surgiram também alguns interessados apenas pela marca Lola. Um deles foi Lawrence Stroll, quando comprou a Force India. Porém, após não conseguir adquirir os direitos do nome Lola, o empresário canadense rebatizou sua nova equipe de Racing Point, antes de comprar e passar a usar a marca Aston Martin.

Após a morte de Birrane, em 2018, sua a família seguiu como proprietária da empresa e manteve o processo de procura por um comprador. Em 2021, Bechtolsheimer se interessou e iniciou a negociação, finalmente finalizada agora na metade de 22.

Os primeiros alvos da nova Lola

Bechtolsheimer, que comanda uma empresa de investimentos nos Estados Unidos focada no setor energético, já está trabalhando em recrutamento de pessoal e planejamento estratégico. O primeiro trabalho, segundo ele mesmo, é atualizar o túnel de vento e modernizar a estrutura de fabricação.

Enquanto organiza a casa, o novo proprietário da Lola também já procura oportunidades para os primeiros projetos de pista. A ideia é que a empresa tenha um carro competindo entre 2024 e 25.

A competição para a primeira participação ainda não está definida, pois depende de fechar algum contrato ou parceria comercial, mas Bechtolsheimer afirma que as sondagens envolvem tanto campeonatos de carros esportivos e protótipos quanto monopostos de categorias menores.

O empresário inglês  Till Bechtolsheimer é o novo dono da Lola
O empresário inglês Till Bechtolsheimer é o novo dono da Lola (Imagem: Reprodução/Lola Cars)

Um dos alvos preferenciais é um retorno ao endurance e, em especial, Le Mans. Para isso, a deia é entrar na concorrência para conseguir uma das licenças da FIA para se tornar fornecedora de chassis da classe LMP2 do WEC e IMSA no próximo ciclo do regulamento que começa em 2025.

A tarefa não será fácil, pois a entidade já anunciou que as quatro atuais fabricantes (Dallara, Ligier, Multimatic e Oreca) seguirão como fornecedoras. Por isso, a Lola dependeria de uma abertura não prevista no cronograma da FIA.

De qualquer maneira, os primeiros negócios para a empresa iniciar seu novo momento devem ser no aproveitamento da estrutura modernizada para parcerias técnicas com outras construtoras de chassis e companhias do setor automotivo.

Um projeto para a F1, no entanto, está fora dos planos mesmo no longo prazo. Segundo o novo proprietário da Lola, o nível tanto tecnológico quanto de custos da categoria inviabiliza uma empreitada para a Lola.

“F1, especialmente hoje em dia, caminhou para uma outra dimensão e acho que a perspectiva de me queimar na F1 não me atrai muito. F1 não é algo que é um foco para a Lola, e seria um objetivo fora da realidade para nós”, explicou o empresário de 40 anos em entrevista para a revista inglesa Motorsport.

“Quando você olha para as novas regras de competições de carros esportivos do próximo ano no Mundial de Endurance e IMSA, realmente me anima e veremos uma nova era de ouro para as provas de esporte-protótipos.”

“Com [Roger] Penske assumindo a Indy, é provavelmente o momento mais saudável dela em décadas. Você começa a ver outras formas de automobilismo ganharem vida enquanto coisas como a Fórmula E estão construindo seu próprio segmento importante. Estou mais interessado em levar a Lola de volta a estes tipos de automobilismo onde ela sempre teve um papel importante”, continuou.

Bechtolsheimer, que paralelamente à sua vida empresarial também tem uma carreira de piloto em carros clássicos e nos últimos anos até participou de etapas da IMSA, tem razão sobre o histórico da Lola. A empresa teve diversos projetos na F1 em parcerias com outras equipes, como a Reg Parnell Racing nos anos 60, Embassy Hill, nos 70, Team Haas (Beatrice) e Larrousse, nos 80, e a Scuderia Italia, nos 90.

Nenhum desses projetos teve grande sucesso. Uma pequena exceção é um carro que nas estatísticas da F1 não é creditado a Lola. Broadley projetou o modelo RA300 que foi utilizado pela equipe Honda na temporada de 1967. O modelo teve como base o Lola T90, que venceu as 500 Milhas de Indianápolis de 1966 com Graham Hill.

O modelo chegou a ganhar o apelido de “Hondola” e conquistou a única vitória de um projeto da Lola na F1, logo na estreia, no GP da Itália, com John Surtees. O carro não chegou a triunfar novamente, mas teve outros bons resultados como o quarto lugar no GP do México.

Em 1997, a marca resolveu embarcar em uma empreitada própria na categoria, mas sofreu um retumbante fracasso, como já contamos em mais detalhes aqui no Projeto Motor. O time não conseguiu se classificar para o grid em sua primeira etapa e faliu antes de chegar na segunda.

No entanto, a Lola se notabilizou por grandes sucessos em outras categorias, tanto de esporte-protótipos quanto de monopostos, inclusive no mais alto nível do automobilismo.

História no endurance, categorias de base e Indy

Independente dos insucessos na F1, o nome Lola é reconhecido pela grande maioria dos fãs do esporte a motor. Isso por conta dos vários triunfos e participações importantes em outras categorias.

O primeiro modelo foi batizado de Mk1 e fez um grande sucesso em competições na Inglaterra e até nos Estados Unidos, onde venceu em sua classe as 12 Horas de Sebring. Depois, viria o Mk6, que se tornaria base para o Ford GT40, projetado em cooperação entre as duas empresas.

Neste meio tempo, a Lola conseguiu uma de suas grandes vitórias, nas 500 Milhas de Indianápolis, com o modelo T90. A participação se tornou um marco porque a Lola passou a ser uma feroz competidora na Indy. Nos anos 80, a marca conquistou a Indy 500 por mais três vezes, além de sete títulos.

No total, a Lola venceu 193 corridas na Indy (entre as encarnações da USAC, CART e IndyCar), incluindo algumas campanhas dominadoras, como a de 1991, com 14 triunfos em 17 etapas.

Michael Andretti foi campeão da Indy em 1991 com um Lola T91/00 da equipe Newman-Haas
Michael Andretti foi campeão da Indy em 1991 com um Lola T91/00 da equipe Newman-Haas (Foto: IndyCar)

A empresa também esteve presente em diversas categorias de monopostos na base. Isso aconteceu na primeira encarnação da F2,  e também na F3000, principal categoria de acesso da F1 entre os anos 80 e início dos 2000. Nesta, a Lola conquistou 116 vitórias, sendo boa parte no período de 11 anos em que o campeonato foi multimarca com concorrentes como Reynard, March e Ralt.

Em 2005, a construtora ganhou o contrato para fabricar os chassis da nova A1GP, categoria que ficou conhecida por ter equipes que representavam países, em uma espécie de Copa do Mundo do automobilismo.

No endurance, a Lola sempre foi um nome bastante presente tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Um dos projetos mais famosos é o T70, que venceu o primeiro campeonato da famosa Can-Am, em 1966, com John Surtees.

O carro teve um grande sucesso comercial, com mais de 100 unidades produzidos para correr em diversos campeonatos pelo mundo, inclusive em provas de esporte-protótipos no Brasil. O modelo protagonizou até mesmo um filme de George Lucas como um carro de polícia do futuro no clássico cult THX 1138, de 1971, nas mãos do ator Robert Duvall.

Durante os anos 80, dentro do regulamento do Grupo C e GTP, a Lola trabalhou diretamente com montadoras como Aston Martin, Chevrolet e Nissan para desenvolver seus protótipos.

O último protótipo de endurance fabricado pela empresa foi o B12/60, que competiu com motor Toyota pela equipe Rebellion na LMP1 entre os anos de 2011 e 14. Apesar de nunca conquistar uma vitória, o carro sempre mostrou um bom desempenho mesmo sendo o único de sua classe de um time independente, correndo contra equipes oficiais de Peugeot e Audi.

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