(Divulgação/GM)

A incrível novela para a Cadillac se tornar a nova equipe da F1

Neste momento entre testes de pré-temporada e a primeira etapa do campeonato de 2025, a F1 teve uma grande notícia que até há pouco tempo parecia algo improvável. A categoria anunciou que terá uma equipe extra em 26, com a oficialização da inscrição da Cadillac.

Times novos não são exatamente uma novidade na F1 quando se trata de compra de uma organização que já estava na categoria. Mas desde 2016 que não acontecia a entrada de uma equipe totalmente nova, que representa o aumento do número de carros no grid. E já fazia um tempo que isso parecia algo muito pouco provável.

Nos últimos anos, principalmente depois da compra da empresa F1 (que gere os diretos comerciais do campeonato) pela Liberty em 2017, as atuais escuderias entenderam que o caminho era valorizar as suas vagas para que as equipes passassem a valer mais no futuro.

Ou seja, em vez de você seguir permitindo que novos concorrentes entrassem, dividindo inclusive o bolo do dinheiro distribuído pela nova organização comercial da F1, a estratégia foi de se fechar entre as 10 competidoras existentes e dizer ao mercado que “se você quer participar, vai ter que comprar alguém”.

E isso já fez avaliações de alguns times subirem para a casa de bilhão de euros. No último Pacto de Concórdia, chegou-se inclusive a aumentar a taxa de inscrição de novos times, porém, como uma forma de diluição para as outras equipes, e não somente dinheiro para a FIA e F1.

Assim, quem entra, de alguma compensa a perda de receita dos primeiros dois anos dos outros times na divisão do bolo total. Depois disso, a expectativa é que o novo competidor traga de alguma forma algum ganho para a categoria de forma indireta através da abertura de novos mercados ou atração de patrocinadores e interesse.

É uma receita muito parecida com as ligas americanas como NBA (basquete), NFL (futebol americano), entre tantas outras.

A última vez que uma nova equipe entrou na F1 foi a Haas, em 2016, quando a categoria ainda era de propriedade do fundo de investimento britânico CVC e liderada por Bernie Ecclestone. Na época, o projeto de um grande empresário americano, Gene Haas, de trazer um time dos Estados Unidos era muito bem-visto.

Mas diante de toda essa estratégia, como a Cadillac conseguiu entrar como 11ª equipe? O caminho foi longo e o projeto se tornou uma operação totalmente de fábrica mesmo no meio do caminho.

A confusão com os Andretti

O projeto da nova equipe começou ainda em 2021, quando Michael Andretti, campeão da Indy e ex-F1 em 1993 como piloto e proprietário da equipe Andretti, iniciou negociações para comprar a Sauber.

O time, que estava nas mãos de um fundo de investimento com base na Suíça, mas liderado principalmente por empresários suecos, corria sob o nome da patrocinadora Alfa Romeo.

O negócio ficou muito próximo de ser fechado e alguns veículos internacionais que cobrem a F1 chegaram a dizer que o acordo era iminente. Só que na última hora, os donos da Sauber resolveram que até venderiam uma participação a Andretti, mas que gostariam de manter o controle e última palavra nas decisões da empresa.

Para Andretti, a questão era obviamente inegociável e o acordo naufragou. Três anos depois, a Sauber acabou sendo vendida para Audi e indicou-se que uma das preocupações era a manutenção da fábrica em Hinwil, na Suíça, o que não deveria acontecer no caso de aquisição por Andretti, que levaria a estrutura para os EUA.

Mas o contratempo não fez Michael Andretti desistir da vaga na F1. Com sua empresa crescendo cada vez ao competir na Indy, Fórmula E, Extreme E, Supercars Australiana e outras categorias, ele queria também entrar na F1.

Após consultar a possibilidade de compra de outros times, como a também americana Haas, e não ser atendido, ele optou então pelo caminho mais difícil: uma equipe totalmente nova.

Em 18 de fevereiro de 2022, Mario Andretti, campeão mundial de 1978, anunciou no Twitter (atual X) que seu filho, Michael tinha entrado com um pedido de inscrição na FIA para uma nova vaga na F1.

A notícia caiu como uma bomba no paddock, já que as equipes tinham acabado de fechar o novo Pacto de Concórdia e tinham um alinhamento de não permitir a entrada de um novo concorrente.

Dirigentes como Toto Wolff, da Mercedes, e Christian Horner, da Red Bull, o próprio Stefano Domenicali, CEO da F1, entre vários outros, se mostraram céticos quanto ao pedido de inscrição. Eles alegavam principalmente que Andretti precisaria demonstrar o que traria de valor extra para a categoria com sua entrada.

Algo que rapidamente ficou claro é que a forma agressiva e pública de Michael Andretti falar do processo incomodou muita gente na F1. Ao ver as portas fechadas para conversas, o americano não demorou para disparar críticas ao modus operandi da categoria e dos dirigentes das equipes.

Curiosamente, ele encontrou como aliado apenas o presidente da FIA, Mohammed bin Sulayem, que diante do pedido da Andretti, abriu um processo formal para candidatos à 11ª vaga do grid da F1.

E durante e defesa de sua candidatura, os americanos ainda trouxeram uma novidade que parecia deixar sua posição ainda mais forte: a parceria com GM através da marca Cadillac.

A montadora americana, que nunca participou da F1, resolveu eleger a Andretti como sua operação de fábrica para a entrada no Mundial. Em um primeiro momento, o time utilizaria apenas o nome Andretti Cadillac e teria em um primeiro momento a Renault como fornecedora de motores.

Mas a GM também se inscreveu como fornecedora de unidades de potência a partir de 2028, deixando explícita sua vontade de competir não só como parceira comercial, mas também pelo lado técnico.

Desta forma, o pacote de uma nova equipe que carregaria um dos sobrenomes mais importantes do automobilismo americano e ainda com apoio da maior montadora dos EUA parecia irrecusável. E como era de se esperar, a Andretti foi a grande vencedora da concorrência da FIA, que teve várias outras equipes participantes e que foram consideradas.

Só que pelo atual acordo entre FIA, F1 (empresa) e equipes, mesmo com autorização da entidade reguladora, a nova equipe precisava entrar em acordo com a dona dos direitos comerciais. E mesmo com o apoio da GM e Cadillac, a F1 resolveu rejeitar a inscrição da Andretti.

Michael Andretti (Foto: Joe Skibinski/IndyCar)

A reviravolta que abriu caminho para a Cadillac

Mesmo com a rejeição da F1, Michael Andretti sempre pareceu otimista em conquistar seu lugar na categoria. Ele inaugurou um espaço de seu time na Inglaterra, que chegou a dizer que seria utilizado para a nova equipe do Mundial.

Ele também contratou pessoas para seu corpo técnico, como o engenheiro Pat Symonds, que vinha trabalhando como consultor da F1, entre outros.

Em setembro de 2024, no entanto, algo importante aconteceu. Michael vendeu o controle da empresa que dirige suas equipes, a Andretti Global, para Mark Walter. O empresário possui através de sua holding TWG participação em organizações de diversos esportes como basquete, beisebol, hóquei e futebol (incluindo no Chelsea da Inglaterra).

Mais importante ainda: Dan Towriss, que já era um acionista minoritário da Andretti, passou a ser o CEO da companhia enquanto Michael deixou a administração geral e assumiu um cargo mais tático como consultor técnico, principalmente na Indy. A empresa também passou a operar como TWG Motorsports.

Coincidência ou não, em novembro de 2024, cerca de dois meses após as mudanças, a F1 anunciou que tinha chegado a um pré-acordo para a inscrição da Cadillac como 11ª equipe do grid.

Projeção do carro de F1 da Cadillac
(Divulgação/GM)

A GM se comprometeu a fabricar os motores a partir de 2028 e investir no desenvolvimento técnico do time, enquanto a TWG (nova proprietária da Andretti Global) seria a operação em si na pista.

Agora, em março de 2025, a F1 finalmente anunciou de forma oficial, em conjunto com a FIA, que a inscrição da equipe Cadillac estava finalmente confirmada para 2026.

Apesar de Michael estar fora do negócio, Mario Andretti irá participar da equipe com um lugar no conselho de administração da equipe e possivelmente consultor. O chefe da equipe será Graeme Lowdon, que em 2010 liderou a construção da também nova equipe Virgin. Os pilotos ainda serão escolhidos.

Os americanos também anunciaram que, enquanto sua unidade de potência própria não fica pronta, fecharam um acordo para utilizarem motores da Ferrari em 26 e 27.

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