(Foto: Ferrari)

O que aconteceu com os campeões da F1 contratados pela Ferrari

O anúncio da contratação de Lewis Hamilton pela Ferrari para 2025 chacoalhou o noticiário da F1 por diversos motivos. Para começar, pela surpresa do britânico deixar a Mercedes, após tantos anos e glórias. Depois, pela Ferrari conseguir convencer o heptacampeão neste ponto de sua carreira e vida (próximo aos 40 anos), a iniciar um novo projeto que ainda não é vencedor.

Hamilton se torna assim o sétimo campeão mundial a se transferir para a Ferrari já consagrado. E a história mostra que a vida desses grandes nomes nem sempre foi fácil na equipe italiana, cada caso por motivos e em contextos diferentes.

Dos seis anteriores, apenas dois conseguiram repetir seus feitos anteriores e conquistaram novos títulos, agora pela Ferrari. E coincidência ou não, ambos estão entre os maiores pilotos da história da F1.

A primeira vez que isso aconteceu foi com Juan Manuel Fangio. O argentino era tricampeão mundial por Alfa Romeo e Mercedes, quando se transferiu para a Ferrari em 1955. E ele não decepcionou e levantou sua quarta taça pela escuderia de Maranello, muito ajudado pelo companheiro Peter Collins, é verdade, como já contamos aqui no Projeto Motor.

Ao final da temporada, Fangio deixaria a Ferrari após apenas um ano defendendo o time para voltar a correr pela rival Maserati, marca italiana pela qual ele conquistaria seu quinto e derradeiro título da F1.

Mais de quatro décadas depois, foi a vez de Michael Schumacher, então bicampeão mundial pela Benetton, se transferir para a Ferrari em 1996. Só que ao contrário do que aconteceu com Fangio, o sucesso do alemão na Ferrari demorou alguns anos para acontecer.

Na primeira temporada da parceria, enquanto a Williams dominou totalmente a F1, o time de Maranello claramente passava por um período de transição, que contava não só com a chegada de Schumacher, mas, aos poucos, de vários outros engenheiros e dirigentes.

Em 1997, a Ferrari já se mostrou muito mais forte, e Schumacher lutou pelo título até a corrida final, mas acabou perdendo a decisão após a polêmica manobra em que jogou o carro em cima de Jacques Villeneuve, da Williams, mas acabou ficando fora da prova no toque entre os dois.

A Ferrari voltou a brigar pelos títulos de 1998 e 99 (neste segundo ano com Eddie Irvine, após Schumacher quebrar a perna em um acidente em Silverstone), mas a consagração do piloto alemão veio apenas em 2000, sua quinta temporada pela equipe italiana. E naquele momento, foi criada uma verdadeira hegemonia, já que Schumacher e Ferrari venceram cinco campeonatos consecutivos.

Schumacher conseguiu sua vitória 91 no GP da China de 2006
(Foto: Ferrari)

Campeões contratados pela Ferrari que não repetiram o feito

A lista de campeões contratados pela Ferrari com expectativa de levaram a escuderia ao topo da F1, mas que acabaram de alguma forma não conquistando o tão sonhado título pelo time vermelho, é grande.

Podemos voltar já lá para os anos 50, com Giuseppe Farina, apesar de neste primeiro caso, precisarmos de algum contexto. O italiano, primeiro campeão da história da F1 em 1950, já tinha, na verdade, corrido pela Ferrari antes durante os anos 30, antes da criação do Mundial. Só que na época, a Ferrari ainda era uma equipe que recebia apoio de fábrica da Alfa Romeo e não competia com os próprios modelos.

Em 1950, Farina foi campeão pela Alfa Romeo, batendo os companheiros de equipe Fangio e Luigi Fagioli. A Ferrari ficou longe da briga, com seu melhor piloto, Alberto Ascari, ficando apenas em quinto no campeonato.

Em 1952, ano em que a F1 adotou o regulamento da F2 como forma de cortar custos, Farina se transferiu para a Ferrari. A decisão não poderia ter sido mais correta. O modelo 500 dominou a categoria. Só que mesmo assim, Farina não conseguiu voltar a levantar um título, como muitos esperavam, pois foi amplamente superado pelo companheiro de equipe, Ascari, bicampeão em 52 e 53.

Farina seguiu na Ferrari até 1955, anos em que a escuderia foi superada por Mercedes e Maserati, quando ele resolveu se aposentar da F1. Assim, o italiano que sempre será lembrado por ser o primeiro campeão do mundo de F1 não repetiu seu feito quando competiu com os carros de Maranello.

Damos agora um grande salto no tempo, para 1990, quando a Ferrari contratou um dos pilotos mais vitoriosos da época, Alain Prost. Tricampeão mundial e vencedor do campeonato de 1989 em uma das mais polêmicas decisões da história, o francês deixou a McLaren após intensas brigas (que extrapolaram as pistas) com seu companheiro Ayrton Senna.

 A Ferrari não conquistava um título desde 1979 e depositou todas as suas fichas na contratação do astro, que levava ainda o número 1 como atual campeão. E não era só isso, a escuderia trazia junto do piloto o projetista da McLaren, Steve Nichols.

A primeira temporada da parceria recolocou a Ferrari de cara na briga pelo título, algo que não acontecia desde 1985. Prost lutou com Ayrton Senna até a penúltima corrida do calendário, quando o brasileiro da McLaren sacramentou seu segundo mundial em uma nova decisão polêmica com batida entre os dois.

Só que em 1991, a Ferrari deu um gigantesco passo atrás. A equipe não venceu nenhuma corrida e ficou longe da briga pela taça protagonizada por McLaren e Williams. Prost fez diversas críticas públicas ao carro do time, o que enervou a crise interna da escuderia e acabou com a demissão do francês antes mesmo da etapa final da temporada.

Pulamos quase mais duas décadas para chegarmos na nova contratação de um campeão pela Ferrari. A equipe vivia um momento vem diferente daquele da época de Prost após dominar o começo dos anos 2000 com Schumacher, conquistar um título com Kimi Raikkonen em 2007 e um vice bastante apertado (apenas um ponto!) de Felipe Massa em 2008.  

Depois de uma temporada muito ruim em 2009, a equipe viu o bicampeão Fernando Alonso livre no mercado depois de sua briga com a McLaren em 2007 e duas temporadas sem um carro competitivo com a Renault. Raikkonen também mostrou uma queda de desempenho brutal depois de seu título de dois anos antes. Então, a escuderia resolveu fazer a troca de campeões, demitindo o seu e contratando o espanhol.

Alonso rapidamente assumiu o papel de líder da Ferrari. Logo em 2010, lutou pelo título até a corrida final e perdeu a taça para Sebastian Vettel, da Red Bull, muito por conta de um erro de estratégia da equipe no derradeiro GP de Abu Dhabi. Alonso voltaria a brigar diretamente pelo título em 2012, mas foi novamente superado pelo pacote Vettel e Red Bull na última corrida do ano, desta vez em Interlagos.

Em 2013 e 14, a Ferrari não conseguiu construir bons carros. No segundo ano, inclusive, o time curiosamente repatriou Raikkonen, para o lugar de Felipe Massa, para montar uma dupla com dois campeões mundiais. Mesmo assim, passou longe das vitórias.

O desgaste da relação fez a Ferrari romper sua relação com Alonso ao final de 2014 para trazer justamente o piloto que impediu seus triunfos nos anos anteriores: Vettel. O alemão já era tetracampeão mundial e nunca escondeu que sonhava em repetir os feitos de seu ídolo, Schumacher, pela equipe de Maranello.

Sebastian Vettel se despede da Ferrari em 2020
(Foto: Ferrari)

As primeiras temporadas, apesar de algumas vitórias esporádicas, não tiveram campanhas fortes o bastante para dar indícios que Ferrari e Vettel pudessem bater de frente com o domínio da Mercedes de Lewis Hamilton e Nico Rosberg.

A chance, no entanto, veio em 2018. A Ferrari finalmente se mostrou forte e teve um carro até melhor que a Mercedes em diversos momentos da temporada. Só que uma sequência de grandes atuações individuais de Hamilton somada a erros consecutivos de Vettel na fase final da temporada, fizeram o título mais uma vez escapar.

No ano seguinte, a Ferrari voltou a ficar longe da Mercedes na luta pelo título e ainda viu Vettel ser internamente superado pelo seu novo piloto, o jovem Charles Leclerc. A relação entre o alemão e a equipe se desgastou e o tetracampeão correu toda a temporada de 2020 já demitido.

Quatro anos depois, a Ferrari volta a apostar em um campeão mundial (recordista de títulos ao lado de Schumacher, com sete) para tentar voltar a erguer uma taça.

O caso de Mario Andretti e os campeões pela escuderia

Mario Andretti é um caso a parte nesta história. Ele competiu pela Ferrari nas temporadas de 1971 e 72 com a conquista de apenas uma vitória. Seis anos depois, em 1978, ele se tornou campeão mundial pela Lotus.

Andretti, então, competiu de novo pela Ferrari em 1982 para fazer apenas três corridas, em meio a uma grande crise da escuderia que perdeu seus dois titulares (Gilles Villeneuve morreu em um acidente em Imola e Didier Pironi sofreu fraturas múltiplas nas pernas em uma batida em Hockenheim).

Nesse rápido retorno como campeão – por outra equipe -, Andretti chegou a conquistar uma pole position em Monza, terminando a corrida no pódio, na terceira colocação.

Em sua história, a Ferrari ainda teve seis campeões mundiais que levantaram a taça pela primeira vez já pela escuderia. Foram eles Alberto Ascari, Phil Hill, John Surtess, Mike Hawthorn, Niki Lauda e Kimi Raikkonen (saiu depois do título e retornou após cinco anos).

Ainda aconteceu o caso de Nigel Mansell, que defendeu a esquadra do cavalo rampante entre 1989 e 90, porém, que só se tornaria campeão mundial em 1992, pela Williams. O britânico não retornaria à Ferrari.

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